Obras na Avenida da Ponte, Casa dos 24 e Mercado de S. Sebastião serão a maior ação realizada desde a classificação do Centro Histórico.
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A Câmara do Porto tem um projeto de intervenção para a Avenida da Ponte, que passa pela consolidação da habitação naquele local, complementada com comércio e serviços. Adiada durante décadas, a requalificação urbanística da zona avançará, após a aprovação do Plano Diretor Municipal (PDM), e a autarquia poderá chamar o arquiteto Álvaro Siza Vieira, que desenhou o primeiro projeto há 52 anos.
Após aprovação do PDM, a Câmara iniciará um estudo especifico de intervenção, à semelhança do que está a fazer na zona do Viaduto do Duque de Loulé, onde está a desenvolver um plano de pormenor. A entrada em funcionamento da residência de estudantes no morro da Sé, cujo concurso foi lançado em dezembro, e a atribuição das 15 casas de renda acessível do Centro Histórico contribuirão, nas contas da Câmara, para a revitalização da área. A Porto Vivo, SRU, está também a começar uma unidade de intervenção para reabilitação urbana na zona da Igreja de Santa Clara.
Passados quase 72 anos desde que começou a ser rasgada, continua a faltar continuidade entre a zona baixa da Estação de S. Bento e o tabuleiro superior da Ponte Luís I da avenida, oficialmente designada D. Afonso Henriques. "A avenida foi criada como acesso rodoviário à ponte, mas agora só passa lá o metro, tendo o edificado que ali existia sido sacrificado também para dar visibilidade à Sé", explicou o geógrafo Rio Fernandes, num recente debate sobre habitação.
O primeiro projeto de reabilitação da Avenida da Ponte, da autoria de Siza Vieira, data de 1968 e sofreu uma remodelação há 20 anos, aquando da preparação do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura. Há seis anos, o arquiteto lembrava à Lusa que "já" tinha feito dois projetos para o local e que "três era de mais".
Na altura, o arquiteto defendia a construção de um edifício de habitação, áreas de serviços, uma praça interior e um auditório. Na revisão do projeto, Siza englobava no conjunto do equipamento previsto para o local o Museu da Cidade, a instalar mesmo ali ao lado da Sé Catedral, na antiga Casa da Câmara, conhecida erradamente por Casa dos 24.
O Centro Histórico do Porto será alvo de três projetos de reabilitação, numa das maiores intervenções dos últimos anos, talvez a maior desde que foi classificado pela UNESCO.
Museu na Casa dos 24
A antiga Casa da Câmara é outro dos pontos onde a Autarquia pretende também intervir através do plano de remodelação do Museu da Cidade do Porto, que promete colocar fim ao abandono. A Casa dos 24 será um dos 16 espaços do museu que ficarão interligados por vários percursos temáticos.
O monumento esteve várias décadas em ruína. O arquiteto Fernando Távora foi responsável pelo atual edifício, reconstruído das antigas fundações. As linhas modernas da construção, inaugurada em 2002 mesmo ao lado da Sé do Porto, gerou polémica, mais até pelo facto de a estátua do Porto - transferida entretanto por Rui Rio para a Praça da Liberdade -, ter sido colocada virada de costas para a cidade. A antiga Casa da Câmara foi um centro interpretativo e posto de turismo, mas está fechado e a degradar-se há anos.
Mercado reabilitado
Apesar da forte procura turística, esta zona da Sé não deixa de causar impacto pela atual imagem negativa. Os turistas convivem de perto com a insalubridade do mercado de frescos. "O projeto de reabilitação foi selecionado no âmbito do Orçamento Participativo e cabe à União de Freguesias fazer a obra e gerir o espaço", diz António José Fonseca, presidente da União das Freguesias do Centro Histórico.
As vendedoras queixam-se. O afastamento da população residente devido à gentrificação turística levou à perda de clientes. No mercado, estrutura de betão construída na década de 1990 e que mais parece um bunker, vende-se peixe fresco, fruta, legumes e flores. Aberto nas laterais, entra a chuva e o frio de inverno.
Além das bancas tradicionais, o novo mercado terá uma cafetaria, uma moderna casa de banho, artesanato, livrarias e alfarrabistas.
São 75 mil euros para as obras que estarão no terreno assim que os procedimentos burocráticos estejam resolvidos.