<p>Cerca de 20 jovens trocaram, por estes dias, o "jogo da bola" para serem pequenos exploradores nas escavações arqueológicas numa igreja de Alvalade Sado, na esperança de encontrar "esqueletos" ou "dentes de ouro".</p>
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Num trabalho minucioso para o qual utilizam apenas pás, colherins e baldes, estes "arqueólogos de palmo e meio" participam nas escavações da Igreja da Misericórdia e "metem mãos à obra" no subsolo do edifício, vasculhando a terra, que encontraram por baixo de dois pisos, um de cimento e outro cerâmico.
Datada de 1570, esta igreja (em Alvalade do Sado), explica à agência Lusa o arqueólogo e coordenador das escavações, Rui Fragoso, perdeu a sua função como lugar de culto em 1861 e, ao longo dos anos, serviu para os mais variados e inimagináveis fins, como sapataria, residência familiar, sede partidária ou acolhendo escuteiros, exposições e a comissão de festas.
Em voz alta, um dos jovens, Leonardo, de 9 anos, mostra os seus novos conhecimentos de português antigo à agência Lusa e lê a inscrição numa pedra de sepultura, que está embutida numa parede, daquele que se pensa ter sido o fundador da igreja.
"A sepultura de Fructuoso Pires que toda a sua fazenda deu esmola com que se ordenou esta casa...", começa, enquanto se apressa a explicar que a "letra 'c' com o chapéuzinho" visível na frase quer dizer a "palavra 'que'".
Embora o seu sonho, seja tornar-se pintor, Leonardo, que ainda não começou a aprender História na escola, tem sido um dos jovens exploradores que participam no ateliê de arqueologia promovido pela Câmara de Santiago do Cacém.
Quanto ao Miguel, de 12 anos, que já é "arqueólogo" há três semanas, foi a "curiosidade" que o levou a trocar as chuteiras pelas escavações. "Já encontrei ossos de animais e de pessoas, dentes e cerâmicas", assegura, explicando que passa ali todo o dia, numas "férias diferentes", porque prefere estar a ajudar.
Sem perder um único programa sobre arqueologia na televisão, Francisco, de 13 anos, agarrou a "primeira oportunidade" que teve para "vestir" a camisola de arqueólogo, alimentando ainda a esperança de, até final do ateliê, encontrar "um dente de ouro".
Estas escavações, em que participam jovens dos 7 aos 15 anos, são muito mais do que um ateliê de Verão, estando prevista a criação de um museu arqueológico na igreja, com todo o espólio da freguesia, que terá sido ocupada, "ao que tudo indica, desde o neolítico",