Abertura da ligação rodoviária à A62 marcada por críticas dos autarcas dos dois lados da fronteira.
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A abertura da nova ligação transeuropeia entre a A25 e a espanhola A62 foi tudo menos consensual. Enquanto os representantes dos governos de Portugal e de Espanha destacaram a importância da nova infraestrutura rodoviária, os autarcas dos dois lados da antiga linha de fronteira de Vilar Formoso estragaram a festa de inauguração com críticas verbalizadas ao investimento que pode apagar do mapa quer Vilar Formoso quer Fuentes de Oñoro.
"Hoje não é dia de festa", disse logo o presidente da Câmara de Almeida, António Machado. "Isto é um revés nas legítimas expectativas destas populações e é tempo do Governo se deixar de retóricas e promessas e passar aos atos para não deixar morrer estes territórios", referiu o autarca para explicar que a abertura da nova ligação rodoviária vai retirar o tráfego do centro de Vilar Formoso, sem que o executivo central tomasse iniciativas que atenuassem as perdas.
" Nem o posto de turismo avançado está feito nem o terminal TIR e os ramais de acesso ao centro da vila", lamentou o autarca que logo ali obteve a solidariedade do alcaide de Fuentes de Oñoro. "Hoje é um dia triste", afirmou com todas as letras Isidoro Alanis. "Em 1992, com o fim das fronteiras, recebemos o silêncio dos governos, com a entrada do euro, recebemos o mesmo silêncio e agora voltamos a ter idêntica resposta quando estes territórios podem morrer", referiu em tom inflamado. "Desculpem se alguém se sente ofendido com as minhas palavras, mas cabe-me defender os cidadãos que governo", sublinhou ainda. O diretor-geral das estradas de Espanha, Javier Herrero, ignorou as críticas e limitou-se a saudar a cooperação ibérica e a sublinhar que a península tem a maior rede de autoestradas da Europa. Já o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, acusou o toque e manifestou "compreensão" diante das preocupações locais.
A cerimónia de inauguração do troço de ligação da A25 à A62, que decorreu numa tenda improvisada no lado português da autoestrada, foi transmitida em tempo real pelas redes sociais e acompanhada por um dos comerciantes que mais têm a perder com a abertura da nova rodovia.
Comerciante apreensivo
Dono do restaurante à entrada no país pela fronteira convencional, Ricardo Rico ainda não quer acreditar que o Governo português deu o aval ao desvio do trânsito do centro da vila sem ter assegurado primeiro a realização de outros investimentos.
"As 600 ou 700 pessoas que aqui entram diariamente vão deixar de o fazer", afiançou o comerciante. "A estrada estava projetada há anos e está feita, mas entretanto não se requalificou o parque TIR que está em péssimo estado", referiu.
O secretário de Estado das Infraestruturas garantiu que "o projeto está em andamento bem como os ramais de acesso a Vilar Formoso".
"Estrada da morte"
A A25, como estava até ontem, foi concluída em 2006, após anos de reivindicações por parte das entidades locais e transportadores. Veio substituir o perfil original 2+1 do IP 5, uma via congestionada e perigosa, conhecida por "estrada da morte". Por ter sido construída sobre a antiga estrada, a A25 é uma das mais sinuosas autoestradas do país, mas o objetivo de reduzir a sinistralidade do IP5 foi conseguido.