Poças Martins, o diretor de Hidráulica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, defende que as novas cidades devem ser esponjas e facilitar escoamento natural. Isto porque devido às alterações climáticas, vamos ter chuvas mais fortes, que provocam inundações
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A que se deve a dificuldade de muitas cidades em responder a fenómenos climáticos extremos como a elevada pluviosidade?
Durante muito tempo houve uma prática urbanística de grande impermeabilização em ruas e de construção de casas em cima de ribeiras ou leitos de cheias. Com as alterações climáticas começamos a ter chuvas mais fortes e mais frequentes, que provocam inundações.
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Há diferenças de norte a sul?
Há diferenças na configuração dos rios. No caso do Porto também há cheias, mas são previsíveis. Para saber se vai haver cheias na ribeira do Porto, basta ver o que aconteceu há 1 hora na Régua. No caso de Lisboa, Setúbal, Algés, Oeiras, há uma chuvada muito intensa e isso transforma-se numa cheia em minutos, as chamadas "flash floods" (cheias relâmpago).
Qual a solução?
No caso de Lisboa, atendendo à situação que já está criada, a única solução são os túneis de drenagem. Lisboa tem um conjunto de depressões onde armazena água e a única forma de a tirar é através dos túneis de drenagem. Estão bem projetados e dentro de uns anos [o problema] fica resolvido.
Nas cidades novas há outras possibilidades?
As cidades hoje já não se constroem em leitos de cheias. A solução hoje é a chamada cidade-esponja, um conceito que apareceu na China. Em vez de terem pavimentos impermeáveis têm pavimentos porosos, jardins e bacias de retenção. Um pormenor simples que ajuda a resolver alguns problemas é a altura dos jardins, que atualmente estão a um nível superior da rua, mas bastava que estivessem uns níveis abaixo para a água das ruas escorrer e se infiltrar.