<p>Até hoje, nada de grave aconteceu no túnel do Juncal, na linha férrea do Douro. Ainda bem. É que em caso de acidente no subterrâneo de 1,6 quilómetros, não há plano de socorro ou combate a incêndios nem comunicações.</p>
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"Demora meia hora a percorre-lo a pé", garantiu, ao JN, Licínio Queirós, elucidando os 1620 metros de extensão daquele que "é só o maior túnel subterrâneo do Norte do país". Proprietário de um café na entrada norte do túnel, junto à estação do Juncal, no Marco de Canaveses, Licínio Queirós conta que já se aventurou a percorre-lo a pé com amigos. Fala de abrigos "em cada 50 metros" cravados na parede e de uma espécie de "sala com 5 metros quadrados a meio do túnel".
"O espaço que resta é ocupado pelo comboio", atalha um operário da Refer, que entretanto se aproximara, curioso com a conversa. A saída do túnel no lado de Baião - tomando como referência o sentido Porto-Régua - não tem qualquer acesso ao local que não seja via carris. "Aí, a boca do túnel surge lá no fundo de uma espécie de garganta esculpida num monte", especifica José Manuel, técnico da Protecção Civil na Câmara de Baião.
Aquele responsável, juntamente com homólogos dos concelhos de Marco de Canaveses, Amarante e Lousada, acompanhados pelos respectivos corpos de Bombeiros locais, reuniu no passado dia 20 de Janeiro, com a Autoridade Nacional de Protecção Civil no Comando Nacional de Operações da Refer em Contumil. A CP esteve também representada.
Aí ficou a saber-se que não há comunicações no interior do túnel do Juncal, mas também no de Caíde, em Lousada, este último com cerca de um quilómetro de extensão. Quando muito, admite-se como provável a comunicação interna entre comboio e Refer, mas mesmo essa não será garantida, pelo menos em toda a extensão dos túneis (Juncal e Caíde). Os telemóveis não têm rede. Não existem, também, meios de combate a incêndios nem tão pouco de extracção de fumos. Isto apesar, no caso do túnel do Juncal, ter sido objecto de uma intervenção recente a cargo do Governo, que o impermeabilizou (condição indispensável à prometida, mas até agora não cumprida, electrificação da via).
Em caso de emergência, o socorro teria de ser feito a pé pela linha ou quando muito com meios da Refer. José Luís Carneiro, autarca de Baião, garante ter exposto "esta fonte de preocupação" à Autoridade Nacional da Protecção Civil. O autarca defende a construção de um acesso ao túnel a partir de Baião, disponibilizando-se para negociar com os proprietários dos terrenos, quer para abertura de um caminho quer para a criação de um espaço onde se pudessem concentrar as viaturas de socorro. As questões suscitadas por esta reportagem junto da Refer ficaram sem resposta, apesar do JN ter pedido um esclarecimento à empresa que gere a ferrovia portuguesa.