Quem vive e trabalha nas ruas Cardoso Avelino e Macário de Castro, em Lamego, já teve dias melhores. Desde que o trânsito automóvel passou a fluir nos dois sentidos, abolindo o estacionamento, a principal entrada na cidade tornou-se caótica. Sobretudo em horas de ponta.
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Alguns comerciantes mudaram-se, outros fecharam e os que resistem protestam. A Câmara espera melhorar a situação com a construção de um túnel que permita desviar parte dos carros.
Alcides Pereira quase já só abre a porta do pronto a vestir para se "entreter" e "não passar o tempo em casa sem fazer nada". Sem estacionamento e com trânsito constante na Rua Macário de Castro, os clientes "não podem parar e vão a outros sítios". O desespero abrange também quem ali vive. A mãe de Mariana Pinto "teve de pôr vidro triplo porque não aguenta tanto barulho".
Na Rua Cardoso Avelino, mais abafada e com passeios estreitos, Aida Garcia, da Casa das Chaves, reconhece que "a situação está a dar muito prejuízo". E não só comercialmente. O edifício, cujo rés do chão é ocupado pela loja, está "cheio de fissuras" em todos os seis pisos, entre a subcave e as águas- -furtadas. "Quando passam camiões, estremece tudo". Protestou na Câmara, mas "de nada adiantou".
Álvaro Silva já se arrependeu de comprar um apartamento no fim da rua, no Desterro. "Se fosse hoje, não o comprava".
No salão de cabeleireira Aparência Fantástica, Ana Catarina Pinto protesta que "não há onde pôr um carro". Por causa disso e do trânsito intenso, "muitas clientes deixaram de ir". E quando algumas vão a pé, "é sempre um problema". Não só porque mal se cruzam duas pessoas no passeio, como em alguns sítios não passa um carrinho de bebé ou uma cadeira de rodas. E "quando chove, os carros passam com as rodas nas poças de água e molham toda a gente".
Proteger o escadório
Aquelas duas ruas contíguas são a principal entrada em Lamego para quem chega pela A24 ou pela EN 226 que liga a Tarouca e Moimenta da Beira, entre outros concelhos. Há outros acessos, mas menos usados, a uma cidade instalada numa zona de orografia difícil - de um lado a serra das Meadas, do outro o vale profundo do rio Balsemão - e com imensos monumentos, com destaque para o Santuário e o Escadório da Senhora dos Remédios.
Sem ser a solução mágica, a Câmara de Lamego vai iniciar a construção de um túnel de cerca de 200 metros com dois objetivos: por um lado, diz o presidente, Ângelo Moura, "dignificar o escadório retirando o trânsito da EN2 que o atravessa". Por outro, "aliviar e requalificar as ruas Macário de Castro e Cardoso Avelino", que "não estão adequadas à atual intensidade de trânsito".
Pormenores
Viaduto ou túnel - Em Lamego, defende-se um viaduto do Seminário à Rotunda Rui Valadares ou à central de camionagem. Em alternativa, um túnel desde a Rotunda Fernando Amaral até à zona da Rina. 20 milhões de euros cada um.
Passagem desnivelada - Ângelo Moura prefere chamar ao túnel que vai ser criado "passagem desnivelada do escadório de Nossa Senhora dos Remédios". O objetivo é "dar mais dignidade ao monumento, retirando o trânsito automóvel".