A palavra "casa" marcou este sábado a inauguração das obras de reabilitação da Quinta do Amparo, em Paredes de Coura, antiga propriedade do escritor Aquilino Ribeiro.
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O imóvel agora recuperado pela autarquia local, por via de um investimento de cerca de meio milhão de euros, é conhecido como "A Casa Grande de Romarigães", em alusão à obra de Aquilino nela inspirada. E Ricardo Araújo Pereira (RAP), que foi protagonista do evento, com uma conversa de cerca de uma hora com o presidente da câmara local, Vitor Paulo Pereira, acabou também por usar a palavra "casa" ao falar de Paredes de Coura.
"A casa onde a minha avó e a minha mãe nasceram fica a um quilómetro daqui e, portanto, sou de Coura. Sou de S. Martinho [freguesia daquele concelho]", afirmou RAP no começo do diálogo com o autarca. "Nasci em Lisboa e, mesmo vivendo lá, vivia no Alto Minho, porque o que a minha avó [courense que também lá vivia] punha na mesa era comida de cá. Muitos rojões, muito arroz de cabidela", contou.
E brincou com "o sotaque da região" que diz ser sua. "Se eu disser 'senta-te aí', é uma ordem até um bocado fria, mas se eu disser 'senta aí home'...(risos) qualquer frase acabada em 'home' é uma coisa muito diferente".
Na conversa que se seguiu, o humorista voltou sempre, entre temas, à sua vivência rural, à avó e tios courenses, que gostava de "imitar" e que inspiraram alguns dos seus sketches humorísticos. E também aos laços que o ligam à terra que também foi de Aquilino Ribeiro, a partir de 1952, quando o escritor ali começou a passar "longas temporadas de verão".
"A minha avó, em Lisboa, quando dava o boletim meteorológico a seguir ao telejornal [na televisão], dizia-me sempre: vê lá que temperatura é que está em Viana", contou, referindo que, por causa disso, tem até hoje "o hábito de querer saber que tempo que está no Alto Minho", no telemóvel.
Numa sessão com casa cheia, Ricardo Araújo Pereira conversou com o autarca courense Vitor Paulo Pereira sobre poder, fragilidade humana e morte, e também sobre palavras, sucesso e o Portugal de hoje.
Recordou o tempo em que na sua casa em Lisboa se "falava da 'Casa Grande de Romarigães' e de terem posto caixilhos de alumínio e toda a gente estar maluca com isso". "Agora fico muito satisfeito por ver a recuperação", comentou.
O imóvel recuperado, com financiamento (85%) do Programa NORTE2020, foi cedido pela família Aquilino Ribeiro à câmara local, por via de um contrato de comodato "não oneroso". "Trata-se de uma parceria que tornou possível este sonho", disse o presidente da câmara local, Vitor Paulo Pereira. "Para o futuro queremos que isto não seja uma casa museu". "Obviamente que terá a nossa memória do lugar, da obra, da palavra, da linha arquitetónica, mas será sobretudo um centro cultural, uma casa de cultura aberta à comunidade, a espetáculos, às escolas e que seja transformadora", declarou o autarca, considerando que este sábado foi "um dia grande" para Paredes de Coura.
Destacou ainda o investimento daquele município na Cultura. "O propósito é que temos que ter grandes eventos populares, temos que ter cultura popular e também mais cuidada, que não considero que seja de elites. Isso é uma palermice, cultura é cultura e se é maravilhosa e boa, é boa tanto para pessoas que tenham formação superior como para as mais simples", afirmou.