Unidade do Exército é especializada em tratamento de equídeos.
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Seria uma unidade hospitalar como qualquer outra, não fosse os pacientes terem quatro patas e pesarem entre 500 e 700 quilos. No hospital de cavalos do Exército, em Mafra, a expressão "dose de cavalo" tem real significado.
Do bloco operatório à enfermaria, passando pelas salas onde são feitas radiografias e ecografias, tudo está adaptado à escala dos animais que fizeram o Exército pioneiro na Medicina Veterinária. Os medicamentos e anestesias são, claro, administrados em "dose de cavalo". "É como nas pessoas, não há muita variação, mas com dimensões e características próprias para estes animais", explica à Lusa o tenente-coronel Sanches Ribeiro, responsável pela infra-estrutura construída de raiz para o efeito nos anos 80, em Mafra.
Há cavalos por toda a parte. Ao ar livre observa-se o trote de um chegado há três dias de Estremoz. Lord Richmond pesa 700 quilos e o veterinário está particularmente atento aos membros inferiores que suportam o portentoso animal. As lesões nas articulações, devido ao peso, são um dos principais problemas nos cavalos, a par das cólicas, mas também há os que se metem em sarilhos devido ao temperamento.
É o caso de Baínha, uma das inquilinas da enfermaria, a recuperar de uma cirurgia. A égua estava em trabalho no picadeiro, "passou-se da cabeça e foi contra um espelho", tendo sofrido um golpe de grande dimensão, mostra Sanches Ribeiro. É conhecida entre os oficiais por ser "completamente estouvada". Deu "muito trabalho", mas está a recuperar bem.
Como noutro hospital, tudo tem de ser funcional. Para evitar manobras com os cavalos, a infra-estrutura foi concebida em "sentido único", possibilitando a marcha em frente de umas valências para outras.
Tal como os humanos, também estes animais de grande porte são sedados para atenuar a dor e para estarem mais tranquilos durante a intervenção de médicos e enfermeiros, mas ainda assim é sempre de acautelar uma postura defensiva. "O maior problema é o coice, pode ser muito complicado. São animais com muita força", diz Sanches Ribeiro. A medicação é administrada através de injecção ou na ração, mas se o veterinário entender que não é conveniente estar sempre a "picar o animal" e este deixar de comer, também pode ser inserida directamente no estômago com uma sonda. "Normalmente procura-se utilizar a via intravenosa porque habitualmente são grandes quantidades. Daí a expressão popular dose de cavalo", indica.