Um dia, conta Carlo America (sem acento, como quando chegou de Itália, com 10 anos, trazido pelo pai, que tinha uma fábrica de conservas em Matosinhos), a igreja encheu-se de japoneses.
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Num dos altares laterais, uma imagem de Cristo baixado da cruz, em vitrina, tinha sempre a luz apagada, por ordem do padre, para não chocar as crianças. Ora, concentraram-se ali em volta os orientais, e ele, matreiro, lembrou-se de acender a luz de repente: "Gritaram, abraçaram-se, cantaram... pensaram que era um milagre!".
Contabilista de profissão, Carlo começou a trabalhar na torre e na igreja quando enviuvou, há 15 anos. Tem 74. Italiano como Nasoni, Carlo da Sicília, o arquitecto da Toscânia, é um dos funcionários que recebem os visitantes, e diz já ter visto quase de tudo por ali. Carregado com um molho de pesadas chaves, conhece como ninguém todos os labirintos da torre, da igreja, do mundo desconhecido que envolve a igreja. Às sete da manhã está lá, come como pode, sai ao fim do dia. Diz estar cansado daquilo, mas vê-se que gosta. Os olhos não mentem.