Encher um saco com comida para a semana é o objectivo das dezenas de pessoas que, às quintas--feiras, fazem fila junto ao Centro Paroquial de Arrentela, Seixal. É lá que a associação "Dá-me a Tua Mão" distribui alimentos.
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O desemprego é, na maioria dos casos, a razão principal das carências das 400 famílias que recebem apoio. Simone Teixeira, de 41 anos, sabe perfeitamente o que é passar dificuldades. Sem emprego, tal como o marido, não se importa de esperar cerca de uma hora pela sua vez. O saco que leva para casa, com arroz, feijão, atum, salsichas, leite, papas lácteas, pão, couves, peros e sumos, já é uma ajuda para alimentar os filhos, de 1 e 4 anos.
"Comecei a vir aqui em meados de Outubro. Isto estava muito difícil. Só temos o abono das crianças, 130 euros. Não posso deixar de aqui vir", adianta, referindo que o marido ficou desempregado em Abril, sem direito a subsídio. A sorte da família é que há verba para a renda mensal da casa, de 290 euros: "O que recebeu de indemnização ainda dá para pagar as contas".
"É a terceira vez que venho. Para que as coisas não se compliquem ainda mais", comenta outra beneficiária, que prefere não se identificar. "O que levamos daqui não gastamos do pouco que temos", desabafa, contando que nem ela nem o marido têm emprego. As couves e os peros que obteve têm de alimentar ainda a filha de 9 anos e o filho de 13, que é deficiente.
A receber 146 euros de rendimento social de inserção, Ilda Maria Numa, de 49 anos, também já não passa sem esta ajuda, mas queixa-se de que, por vezes, os alimentos estão fora de prazo ou estragados. "Deram-me hortaliça e vou aproveitar para fazer sopa. O principal que é óleo, azeite e arroz não dão", lamenta, frisando que em casa tem dois filhos, com 11 e 24 anos. "Elas aqui (associação) não têm culpa de nada. O Estado é que tem de dar mais apoio".
"Levo um pacote de arroz, massa, manteiga e um sumo", descreve Beatriz Alves, de 55 anos, espreitando para o saco que os voluntários da associação acabaram de encher. "Quando não dão aqui o que preciso, tenho de ir à mercearia de uma amiga minha e pago ao final do mês", conta. Os 209 euros que recebe de reforma não chegam para comer, numa casa onde vive com o marido doente, o filho de 10 anos, a filha de 24 e o neto de 10 meses.
A comida é entregue consoante as carências de cada família, já anteriormente sinalizada, após cruzamento de dados com outras instituições e assistentes sociais. "Muita gente vai à Caritas e a essas nós não damos mercearia", revela a presidente da direcção da "Dá-me a Tua Mão", Arminda Oliveira, adiantando que a distribuição arrancou em Abril e abrange já cerca de 160 pessoas, a uma média de cinco dezenas por cada quinta-feira. A associação percorre ainda o concelho todas as noite para distribuir, em pontos estratégicos, sopa e outros bens alimentícios. O serviço, prestado desde 2004, tem cada vez mais procura. "Quando começámos com a ronda, vinham muito poucos. Agora, às vezes vamos para a rua e a comida não chega", afirma.