
Carlos Queirós é o rosto da esperança para as 51 funcionárias de empresa que estava em risco de fechar
josé vinha/jn
Em Raiva, Castelo de Paiva, 51 operárias rejubilaram com a chegada de um novo patrão disposto a salvar a fábrica da falência. Ali ao lado, em Oliveira do Arda, 160 trabalhadores de duas fábricas do grupo Investvar/Aerosoles desesperavam à porta do desemprego.
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Ontem de manhã, o contraste entre o estado de espírito dos trabalhadores era bem superior à distância que separa as fábricas. Em Castelo de Paiva, o desemprego continua a preocupar. Mas na "Outras Matérias -Indústria de Calçado" renasceu a esperança.
A insolvência da empresa foi pedida no passado dia 3 de Março. As operárias montaram uma tenda junto à fábrica e passaram noites ao relento evitando que levassem o equipamento. Acreditaram que se as máquinas não fossem retiradas haveria de aparecer novo patrão. Ontem de manhã, as trabalhadoras foram convocadas para uma reunião junto à fábrica e conhecerem o novo patrão, empresário do sector: Carlos Queirós, administrador da empresa Catalã, de Oliveira de Azeméis.
Alexandre Lopes, encarregado há 20 anos, não tem dúvidas: "Valeu a pena lutar pelos postos de trabalho. Agora é hora de arregaçar as mangas".
Ontem, por volta das 9.30 horas, chegaram o novo patrão, o administrador de insolvência, o advogado do empresário e dos trabalhadores e o presidente da Câmara de Castelo de Paiva, Gonçalo Rocha. A comitiva, depois de falar com as mulheres, entrou na fábrica. Um cheio a mofo denunciava o tempo de paralisação, mas as máquinas alinhadas - e ainda com modelos de sapatos espalhados pelas bancas - atestavam que só o patrão desapareceu.
Carlos Queirós entregou um cheque de 60 500 euros ao administrador da massa falida e resgatou a maquinaria apreendida por ordem do tribunal. O empresário garante que dentro de 15 dias estará tudo a postos para trabalhar. A empresa vai adoptar o nome de "O.Q. Indústria de Calçado, Lda".
"O investimento inicial era para ser zero, na medida em que nos comprometemos a admitir o pessoal na sua totalidade. Depois, como o pessoal vai receber dinheiro do fundo de garantia, houve operários que queriam entrar com esse dinheiro para salvar a fábrica. Achei uma atitude muito nobre, por parte dos trabalhadores, mas não achámos justo sacrificar mais o pessoal. Era uma imoralidade", explicou o empresário.
"Este é um momento de grande felicidade, sobretudo por recuperar uma fábrica que emprega este número de trabalhadores. É o momento mais alto do meu curto mandato", desabafou o autarca Gonçalo Rocha.
A felicidade destas operárias contrastava com a tristeza das 115 trabalhadoras da Glovar e dos 58 operários da Ilpe Ibérica, empresas do grupo Investvar/Aerosoles, paralisadas ou a trabalhar a meio- gás. Uma delas está em lay-off.
À porta da Glovar, dezenas de mulheres lamentavam a situação. Apesar de terem os salários em dia, falta receber prémios de assiduidade e retomar a laboração normal. "Tememos pela falência da empresa, inaugurada há 11 anos", afirmou Jacinta Rocha. Com 10 anos de casa, a operária está desde Janeiro em lay-off e nunca mais regressou ao posto de trabalho: "Não tenho esperança. Há um ano fui chamada para fazer acordo, mas não aceitei".
Em pior situação estão os 59 colegas da Ilpe Ibérica, em Pedorido, que já não receberam o mês de Março e temem não receber o salário de Abril.
António Rodrigues, vice-presidente da Câmara, lembrou que a fábrica Glovar foi construída e começou a laborar com fundos comunitários e camarários.
