Construção fica concluída em junho do próximo ano, a um mês do arranque da operação da Linha Rosa do metro. Ligação pedonal subterrânea está preparada para receber entrada do museu do rio da Vila.
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Conseguimos contabilizar as maiores adversidades da escavação e construção da última estação da Linha Rosa do metro do Porto, a da Praça da Liberdade, com os dedos de uma mão. Foram os achados arqueológicos, as alterações ao projeto para responder aos desvios de trânsito, o consequente avanço da empreitada por fases, a necessária e sempre urgente libertação da superfície e, por fim, a construção de um novo túnel para o rio da Vila. Ou seja, cinco adversidades contribuíram para o já elevado nível de complexidade da obra, prevendo-se o fim da construção desta estação em junho do próximo ano, a um mês do arranque da operação.
Lá, na Liberdade (como já lhe chama a equipa da Metro), a aproximadamente 16 metros de profundidade, faz-se "um esforço extra para tentar minimizar os impactos no prazo de conclusão do projeto", garante o gestor de contrato para a construção da também batizada "linha circular", Pedro Lé Costa.
"Neste momento, estamos a trabalhar 24 horas por dia e os resultados são visíveis", sublinha o também engenheiro civil, enquanto sobe o olhar para o cais e aponta para as paredes já elevadas junto ao fosso onde será instalado o carril. Uma das plataformas não será tão larga quanto o habitual - em vez de quatro metros de largura, terá cerca de três -, porque partilha uma parede com o hotel do Palácio das Cardosas. Mas foi graças à utilização de uma hidrofresa (máquina utilizada para construir paredes subterrâneas) que a equipa conseguiu aproveitar aquela área ao máximo, explica Pedro Lé Costa. Caso contrário, a plataforma poderia ser ainda mais pequena.
Atrás do engenheiro, vemos uma esquina perfeita. É precisamente a delimitação do edifício do Palácio das Cardosas.
Voltemos ao "esforço extra". Se, nota o engenheiro civil especializado em construção mineira, a Metro tivesse mantido o projeto original, "provavelmente [o trânsito no] Largo dos Loios ainda não tinha sido reaberto".
Chegamos assim à segunda maior dificuldade da equipa durante a obra: a necessidade de implementar diferentes fases para "reduzir ao máximo o impacto na superfície em termos de desvios de trânsito".
Os achados arqueológicos (o mais conhecido é o caso da Fonte da Natividade, cuja instalação no novo Jardim de Sophia, na Galiza, ainda não estará totalmente decidida) ocupam, naturalmente, o primeiro lugar, já que obrigam sempre a uma paragem dos trabalhos.
"O faseamento obrigou a um planeamento e a uma logística que não permitiram uma continuidade normal, ou ótima, dos trabalhos. Tivemos de fazer ajustes ao projeto (mais um desafio, o terceiro) para devolver mais rapidamente os espaços à cidade, como é o caso do Largo dos Loios", insiste.
De qualquer modo, o prazo previsto para a conclusão desta estação é junho do próximo ano. "Obviamente, temos compromissos com a Câmara do Porto e o projeto está idealizado no sentido de libertar bastante mais cedo do que isso as zonas ocupadas atualmente", sublinha Pedro Lé Costa, referindo assim a quarta adversidade da obra. A linha ficará pronta em julho do próximo ano.
A preparar "surpresas"
Passemos à arquitetura. "Toda a envolvente da Avenida dos Aliados, Praça da Liberdade e Loios, foi desenvolvida pelo arquiteto Álvaro Siza. A nossa estação de S. Bento [da Linha Amarela, cujo traçado foi recentemente prolongado até Vila d"Este] foi um projeto desenvolvido também no seu tempo por ele. Lançámos um desafio ao arquiteto Siza para encontrar uma forma de integrar a estação da Liberdade em toda esta envolvente idealizada por ele", clarifica Pedro Lé Costa.
"Há algumas nuances [no interior da estação], que neste momento ainda não podemos divulgar, - vamos dizer que são algumas surpresas -, que o próprio arquiteto desenvolveu para dar continuidade a esse programa", justifica.
Quanto a alterações à superfície, adianta Pedro Lé Costa, o acesso na Rua da Madeira irá preservar os arcos junto à estação de S. Bento. E "no acesso a esses arcos vamos ter uma sala de musealização ou memória ao rio da Vila". "Vão ser deixadas imagens nas paredes [alusivas ao curso de água] refletindo o que fomos encontrando", revela.
Museu do rio da vila
Foi precisamente este o quinto e último desafio: a construção de um túnel para desviar este histórico curso de água, totalmente entubado à medida que a cidade do Porto se foi desenvolvendo.
"São bem conhecidas as dificuldades relacionadas com o rio da Vila. Há alguns eventos associados a fenómenos extremos cada vez mais recorrentes e tivemos de conviver com isso tudo e procurar também soluções para, conseguindo manter o prazo da obra, garantir a execução do nosso projeto, tendo em conta alguns fatores não previstos e não cadastrados do próprio rio", reconhece.
Quanto a uma possível entrada para o futuro museu, Pedro Lé Costa nota que "está idealizada há muitos anos pela Câmara do Porto em conjunto com a Metro".
"A existir esse acesso", esclarece o engenheiro, "será na atual estação de S. Bento". "Ou seja, na zona de ligação da futura estação da Linha Rosa com a de S. Bento [um percurso pedonal subterrâneo], já está idealizada uma possível entrada à musealização do rio da Vila", afirma. Contudo, alerta que tal "só será possível com um trabalho bastante superior por parte da Águas e Energia do Porto, no que diz respeito à qualidade das águas do rio da Vila".
A SABER
Túnel de três quilómetros até à Baixa
Com quatro estações subterrâneas e um percurso em túnel de aproximadamente três quilómetros, a Linha Rosa do metro do Porto vem fechar o primeiro anel da rede. O traçado parte da Casa da Música, alargando a estação já existente, passando pela Galiza e pelo Hospital de Santo António, com destino à Baixa do Porto. Os projetos das estações têm a assinatura do arquiteto Eduardo Souto de Moura. Mas ao desenho da estação de S. Bento junta-se também Álvaro Siza.
ORÇAMENTO E ESCAVAÇÕES
304,7 milhões de euros é o custo da construção da Linha Rosa do metro. O orçamento foi atualizado após a subida dos preços provocada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia
30 milhões de passageiros por quilómetro é o volume de procura estimado no primeiro ano de operação da Linha Rosa, reduzindo a emissão em 1500 toneladas de CO2
Tempo de viagem
Com o novo traçado de metro, a viagem entre a Casa da Música e a Praça da Liberdade, poderá fazer-se, em média, em cinco minutos.
Compromisso
A Metro do Porto mantém o compromisso de concluir a construção da Linha Rosa até julho de 2025, começando a transportar passageiros também nessa altura.
Indemnizações
Perante os constrangimentos provocados ao comércio local durante a construção do traçado, a Metro já pagou indemnizações a comerciantes no valor de 700 mil euros.
Faltam 250 metros
Para concluir a construção de todos os túneis da Linha Rosa, falta apenas um troço entre a estação da Galiza e a Casa da Música, de cerca de 250 metros.