Grupo de resineiros de Tresminas vigia floresta e participa no combate inicial ao fogo
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Há dias, numa zona florestal de Tresminas, em Vila Pouca de Aguiar, levantou-se uma coluna de fumo. Um grupo de 10 resineiros que andava a trabalhar correu para lá e malhou no fogo. Evitou que o incêndio atingisse maiores proporções e facilitou o trabalho dos bombeiros, quando estes lá chegaram.
Não foi a primeira vez. "No ano passado, se não fossemos nós, um incêndio tinha voltado a reacender-se. Ficámos cá toda a noite a fazer o rescaldo", conta Paula Pinto, ao JN. Mas, o que leva este grupo de seis mulheres e quatro homens a ter tamanhos cuidados? Simples: "Se arde a floresta, ficamos sem trabalho".
Para ajudar no combate, estão equipados com ferramentas e uma carrinha com 500 litros de água. O mínimo para uma primeira intervenção. O material foi disponibilizado pela GIFF (Gestão Integrada e Fomento Florestal), com sede em Vila do Conde e escritório em Vila Real. É a empresa para a qual estes habitantes de Tresminas trabalham na extração de resina, durante a primavera e o verão, há seis anos.
"Era bom ter emprego todo o ano, mas meio já é melhor que nada", admite Paula Pinto. É que "não é fácil arranjar trabalho na freguesia, principalmente para as mulheres". Por seu lado, o colega Manuel Luís Magalhães sublinha que, por aquelas bandas, a alternativa é a agricultura, que "pouco dá", pelo que "foi bom aparecer esta empresa" na região. Além do mais, faz uma coisa que não lhe é estranha, pois é o único dos 10 que foi resineiro quando era jovem.
De resto, a GIFF prefere contratar sempre nas áreas onde explora a resina. "Em caso de incêndio, conhecem bem o terreno, sabem onde há mais ou menos combustível, qual o caminho que está melhor e podem fazer vigilância na fase de rescaldo", salienta António Salgueiro, gerente da empresa. O modelo de ter resineiros como base da gestão integrada destas áreas é seguido pela GIFF também em Paredes de Coura e em Sátão, onde tem explorações de resina.
Os resineiros funcionam por equipas de três ou quatro, que são formadas entre eles sem interferência do patrão. E escolhem os próprios horários de trabalho, em função da disponibilidade ou gosto. "Desde que cumpram os objetivos definidos são livres de trabalhar como quiserem", acentua António Salgueiro.
Para conseguir garantir outra rentabilidade, sobretudo para os empregados, a GIFF candidatou a fundos comunitários um projeto--piloto para implementar na área de mil hectares que gere, em Tresminas, mas em que apenas 300 estão a ser resinados.
Como agora só há trabalho na primavera e verão, pretende-se incluir outras atividades, como a recolha de cogumelos silvestres ou de pinhas. "O objetivo é saber se estes mil hectares permitem pagar a estas pessoas durante todo o ano", refere António Salgueiro, sublinhando que, "ao mesmo tempo, estaria a fazer-se silvicultura preventiva". De outro modo, "a prevenção fica muito cara e não tem retorno direto em termos de produtividade, excetuando a defesa da mancha florestal".
Se o balanço do projeto for positivo após os quatro anos de financiamento comunitário, a empresa quer continuá-lo, para demonstrar que "a gestão do pinhal bravo não é uma utopia e vale a pena". Para a empresa, o lucro do projeto apenas será obtido quando for cortada a madeira.