O objetivo não foi bater um recorde do Guinness. Ainda assim, não é coisa que se veja todos os dias: largas centenas de pessoas em torno de uma piza gigante, para celebrar a arquitetura de Nicolau Nasoni junto a uma das maiores obras que deixou no Porto, a torre dos Clérigos. Foi o que aconteceu neste domingo.
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Repetindo um feito de há dez anos, mas agora com uma piza um pouco maior - sete metros de diâmetro, em vez dos então cinco -, o mestre pizaiolo Antonio Mezzero não escondeu a emoção. Por ver a multidão que aguardava as primeiras fatias, mas sobretudo pela homenagem que a Irmandade dos Clérigos lhe prestou, oferecendo-lhe uma placa comemorativa.
Foi mais uma iniciativa promovida pela Irmandade dos Clérigos para assinalar os 250 anos da morte de Nasoni. Mezzero, que vive em Portugal há uns anos, respondeu ao desafio "por amor ao país, à cidade e às pessoas", como disse ao JN, e em 24 horas cozinhou uma piza com as cores da bandeira de Itália, mesmo ao lado, no jardim das Oliveiras, com recurso a quatro fornos elétricos.
Auxiliado por oito pessoas, o mestre confecionou o equivalente a 1182 pizas. Para tal, foram necessários 480 quilos de massa de piza, 30 de manjericão, 145 de queijo mozzarella e 110 de tomate San Marzano.
As expectativas quanto à afluência de comensais foi semelhante à de há dez anos. Quando a Irmandade celebrou os 250 anos da conclusão da torre dos Clérigos e ofereceu uma piza, foram cerca de três mil as pessoas que quiseram prová-la. A julgar pelo interesse demonstrado neste domingo, apetite não faltava: é que, pelas 9 horas da manhã, já havia gente a guardar lugar.
Entre os que quiseram uma fatia estava o casal Sónia e Hugo, de Vila Nova de Gaia. Apesar de o objetivo ser provar a piza, Sónia foi mais atraída pela curiosidade: "Queria mesmo ver uma piza de sete metros". E concluiu que estava boa, apesar de recear que a massa estivesse seca. Não estava.
Natural de Amarante mas a trabalhar no Porto, Filipe Carvalho estava ali com uns amigos. "Português que é português não recusa comida grátis", gracejou. Estava admirado com o facto de a piza ter tanta qualidade, tendo em conta que era muito grande.
Opiniões que certamente vão agradar a Antonio Mezzero. Tem uma pizaria em Matosinhos desde que, depois de ter trabalhado mais de 20 anos na Alemanha, escolheu viver em Portugal, não pelo negócio propriamente dito, mas porque se apaixonou pelo país. Hoje, tem orgulho por se "sentir português".
Tudo isto se passou sob o olhar atento de Dilius, um belo exemplar de águia-de-harris que ali estava para não deixar que as gaivotas - que atacam tudo o que é comida à vista - se aproximassem daquele grande círculo de piza. Estava aos comandos de Joana Silva, bióloga e técnica de controlo de avifauna na Tfalcon, uma empresa com sede na Madeira que presta serviços de controlo de pragas.
Habituado ao normal posto de trabalho, um hotel em Gaia, Dilius não conhecia o jardim das Oliveiras, mas Joana levou-o para lá mais cedo. A presença da águia causou logo alarido junto das gaivotas e das pombas, pois sabiam que estava ali "um predador de topo", disse-nos a bióloga. Para mais, Dilius, que já tem quase seis anos, "é um especialista em perseguir gaivotas". Foi quanto bastou.