Equipamento de santuário de Guimarães será automatizado. Trabalho nas mãos de fundição de Braga que festeja 90 anos.
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O carrilhão do Santuário da Penha, em Guimarães, instalado em 1949, está a ser recuperado e automatizado. O trabalho foi confiado à Fundição de Sinos de Braga, que está a comemorar 90 anos e é a única que se dedica ao ramo.
Com 73 anos e sem nunca ter recebido intervenções de vulto, o carrilhão da torre sineira do Santuário da Penha estava em mau estado. Os 19 sinos que compõem o conjunto, pesando mais de quatro toneladas, foram construídos pela extinta Fundição de Sinos de Rio Tinto, em 1949.
"Dado o mau estado, tornou-se inevitável fazer esta reparação. Optamos por uma empresa reputada, com conhecimento e experiência na área, para a podermos assegurar a qualidade da conservação deste valioso património material e imaterial por longos anos", afirma Roriz Mendes, juiz da Irmandade da Penha, instituição responsável pelo santuário e pelo parque envolvente.
Carlos Jerónimo, neto do fundador da Fundição de Sinos de Braga e um dos responsáveis pela continuação da tradição familiar que se iniciou em 1932, aponta para as peças do carrilhão já nas instalações da empresa. "A madeira dos cabeçalhos está em mau estado, os metais dos suportes e dos badalos estão carcomidos pela oxidação. Dentro do possível vamos recuperar as peças, quando não for possível serão feitas novas", explica.
Sinos limpos na Penha
Todos os sinos foram apeados, numa operação delicada por se tratar de objetos muito pesados, suspensos a grande altura. "Os maiores ficaram na Penha e vão ser limpos lá, os outros vão ser tratados aqui", esclarece Carlos Jerónimo.
A Fundição de Sinos de Braga é a única empresa do país que ainda produz este instrumento musical. Os sinos são fabricados segundo uma técnica que se mantém semelhante há muitos anos. Num forno, o bronze - cobre (78%) e estanho (22%) - é aquecido a 1140 graus. As maiores diferenças relativamente ao que se fez durante séculos são o uso de gás para aquecer o forno, em vez de carvão ou lenha e o controlo do processo com instrumentos eletrónicos para medir, por exemplo, a temperatura da liga metálica.
Três meses em 18 segundos
O bronze fundido é despejado nos canais que o conduzem aos moldes de argila, previamente enterrados. A terra serve para suportar a força que o metal a alta temperatura exerce sobre as formas.
A partir do momento em que o enorme caldeirão de metal incandescente é virado, os mestres sineiros têm 18 segundos para garantir que o trabalho, que começou três meses antes, num desenho em papel, não se perde.
Oito homens movem-se numa azáfama, num espaço de poucos metros quadrados, entre rios de bronze a borbulhar para garantir que tudo corre como planeado. "O segredo é fazer o metal fluir continuamente, até encher o molde, para o sino ficar perfeito. Se um dos canais entupir, temos que atuar de imediato", explica Carlos Jerónimo.
O resultado do trabalho que durou semanas e que teve o seu apogeu no enchimento dos moldes, só vai ser conhecido dois ou três dias depois, quando se desenterrarem os sinos e forem partidas as formas.
"A primeira badalada emite um som que, apesar de não ser puro, dá uma indicação sobre o timbre. É neste momento que avaliamos se o trabalho foi ou não um sucesso." Por fim, o sino é entregue ao mestre afinador que o colocará a tocar no tom pretendido.
HISTÓRIA
Uma igreja inaugurada sem sinos
Quando foi inaugurado, em setembro de 1947, o Santuário da Penha, em Guimarães, não tinha sinos. A torre sineira e o respetivo carrilhão só ficaram concluídos dois anos mais tarde, em 1949. O santuário começou a ser construído em 1930, segundo um projeto do arquiteto Marques da Silva. As obras sofreram muitos atrasos, por causa de um incêndio, em fevereiro de 1939, entre outras razões. O arquiteto Marques da Silva veio a falecer três meses antes da inauguração do Santuário da Penha e o acompanhamento final das obras foi feito pela sua filha, Maria José Marques da Silva e pelo seu genro, David Moreira da Silva.
SABER MAIS
Inovação
Em 1964, a Fundição de Sinos de Braga foi pioneira na introdução de mecanismo de automatização dos toques de sinos por meios eletromecânicos.
Diversificação
A empresa fundada, em 1932, por Serafim Silva Jerónimo para fabricar sinos alargou a sua oferta primeiro para os relógios de torre e depois para os órgãos de igreja. Para o neto do fundador, este foi o segredo da sobrevivência do negócio.