Caves e equipamentos públicos danificados por lamas vindas das encostas ardidas da serra da Estrela. Festas na aldeia do Sameiro foram canceladas.
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Cerca de 48 horas depois do aluimento de terras provocado pela força da água e por detritos arrastados das encostas ardidas da serra da Estrela, o largo da aldeia de Sameiro, em Manteigas, está irreconhecível. O parque infantil desapareceu, a piscina está coberta de lama, tal como as ruas de acesso ao chamado centro cívico da povoação.
"Não houve feridos é certo, mas isto foi a maior desgraça dos últimos anos", lamentou Ana Duarte que, acompanhada do marido, se assomou à ponte de onde se avistam o cenário de destruição e os trabalhos de limpeza.
Mesmo ao longe são visíveis homens apoiados por viaturas que continuam a retirar toneladas de destroços provocados pelas enxurradas da madrugada de segunda-feira.
"Anda uma pessoa a trabalhar toda a vida para ficar sem nada de uma hora para outra", queixava-se Leonor Duarte, a dona da única mercearia existente na aldeia. Ainda a tentar recompor-se das perdas, faz quilómetros rua acima, rua baixo, para a ajudar as cerca de 50 pessoas, entre bombeiros e populares, que retiram lamas da mercearia e dos anexos, bem como todo o equipamento que ficou danificado.
"Só tenho a agradecer porque têm sido incansáveis", atira a comerciante e moradora da zona mais ribeirinha da povoação.
À porta, estão amontoados frigoríficos, montras, prateleiras e caixas. "Os alimentos foram quase todos para o lixo", evidenciou ainda sem saber a dimensão do prejuízo. "Tenho seguro mas não sei se me pagará tudo o que perdi", desabafou.
Carros retirados do rio
A par dos trabalhos no largo da freguesia, foram mobilizados meios capazes de retirar as quatro viaturas que foram arrastadas para o rio Zêzere.
Estavam em vários pontos do curso de água, algumas a mais de um quilómetro de distância da povoação: três automóveis mais uma carrinha de caixa aberta que pertencia à frota da Junta de Freguesia. "Está irrecuperável " disse ao JN fonte da autarquia que ainda não conseguiu dar uma estimativa dos prejuízos. " Ainda é cedo", sublinhou.
É que além dos carros arrastados pelo rio, ainda há mais quatro que boiaram por ruas da aldeia mas que acabaram por ficar presos nos troncos de árvores. "Nenhum deles pega pelo que terão de ser removidos com a ajuda de reboques", disse ainda a mesma fonte.
Soube o JN que uma das viaturas pertence a um emigrante que veio de propósito à terra para as festas de Santa Eufémia previstas para o próximo fim de semana e que entretanto já foram canceladas por falta de condições físicas e anímicas.
94 ocorrências
A Proteção Civil registou entre a meia-noite e as 7 horas desta segunda-feira 94 ocorrências relacionadas com o mau tempo no continente, sobretudo inundações e queda de árvores, disse à Lusa o comandante Rodrigo Bertelo, comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.