Suspensão de funções decretada pela diocese, após escândalo de alegado abuso de menor, for alargada a instituições em que o sacerdote era capelão.
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A Ordem de Malta, uma das instituições mais antigas e conceituadas entre as ordens religiosas leigas, suspendeu da função de capelão o padre Luís Miguel da Costa, de 46 anos, que é investigado por abuso sexual de menor. O mesmo aconteceu na Ordem Constantiniana de São Jorge - Real Comissão de Portugal, onde o suspeito era capelão de Mérito. E a Universidade Católica, onde o sacerdote de Viseu foi docente e era capelão, também lhe retirou todas as funções.
O presidente do Centro Regional de Viseu da Universidade Católica, Aires do Couto, disse ao JN que o padre deixou de ser capelão em agosto, quando o bispo lhe retirou as funções que exercia na diocese.
Na Ordem de Malta, o sacerdote foi afastado logo que foram conhecidas as suspeitas de abuso sexual. "As medidas determinadas pelo bispo de Viseu aplicam-se também ao trabalho que desenvolvia enquanto capelão na Ordem", referiu o delegado de comunicação da organização. Luís Miguel da Costa, que já é arguido num inquérito criminal, foi afastado das paróquias pelo bispo D. António Luciano.
Muito ativo nas redes
Nas redes sociais, o padre publicava com regularidade fotografias e textos sobre o seu trabalho na Ordem de Malta, do qual parecia retirar muito prazer. "Não nos pronunciamos sobre processos em investigação", referiu o delegado de comunicações da Ordem que, enquanto pessoa de direito internacional, tem representação oficial junto do Governo português e tem uma embaixada, em Lisboa. Giuseppe Maria Nigra, o atual embaixador da Ordem de Malta, tal como os representantes de países com interesses em Portugal, apresentou credenciais junto do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O padre de Viseu era muito ativo nas atividades da Ordem de Malta que apoiam peregrinos, crianças desvalidas, deficientes, idosos, doentes ou reclusos.
O escândalo com Luís Miguel da Costa rebentou quando foi conhecido um caso, ocorrido em março, em que o padre terá enviado mensagens de cariz sexual a um menor que conheceu num almoço convívio. Este rapaz, de 14 anos, não gostou dos avanços do pároco e denunciou-o ao pai, que se queixaria à Justiça e à Comissão Diocesana de Proteção de Menores, organismo que ouviu as partes e elaborou um relatório que enviou para o Vaticano e para o bispo de Viseu.
Roma pede à diocese de Viseu que aprofunde investigação
Padre será julgado em tribunal eclesiástico
A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão da Santa Sé sediado em Roma, pediu à diocese de Viseu, liderada por D. António Luciano, para aprofundar a investigação ao padre suspeito de ter assediado sexualmente um menor, de 14 anos.
A mais antiga das nove congregações da Cúria Romana considerou que faltavam elementos ao processo que lhe foi enviado pela Comissão Diocesana de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, da diocese de Viseu.
"A CDF achou que não tinha os dados todos que necessitava. Pediu para aprofundar a investigação, antecedentes, etc. Achou que ainda não tinha os elementos suficientes para assumir o caso ou para nos dizer para nós julgarmos", declarou ao JN fonte do Tribunal Diocesano de Viseu, desmentindo notícia de que Roma já ordenara o julgamento do padre suspeito, de 46 anos, em tribunal eclesiástico de Viseu.
Segundo a mesma fonte, "ainda não é certo que vá haver julgamento aqui". "A Santa Sé disse ao bispo de Viseu para continuar com a investigação. Se houver julgamento, pode ser a própria congregação a fazê-lo, ou [pode] incumbir o nosso tribunal de o fazer", esclarece.
Se for Viseu a julgar o padre Luís Miguel da Costa, poderá ser criado um tribunal próprio, onde estarão representados três juízes, "que poderão ser de outras dioceses". Ao tribunal eclesiástico caberá julgar a violação do direito canónico. A pena pode levar ao afastamento de Luís Miguel da Costa do sacerdócio.
Paralelamente, o padre é alvo de investigação criminal, na qual já foi constituído arguido. A Polícia Judiciária já terá concluído a investigação, com proposta final, ao Ministério Público, de acusação contra o padre por crime sexual.