Começou por ser uma medida temporária, devido à greve dos médicos às horas extra, mas já passou um ano e o serviço continua encerrado. Administração da ULS do Nordeste não dá explicações.
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Fez esta terça-feira um ano que o serviço de Urgência de Cirurgia Geral (UCG) do Hospital Distrital de Mirandela está encerrado, alegando a administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) que se tratava de uma situação temporária, provocada pela greve dos médicos às horas extraordinárias.
Os três cirurgiões que prestavam serviço na unidade de Mirandela foram alocados à urgência do hospital de Bragança e 12 meses depois o serviço continua fechado.
Os doentes que estão na área de abrangência da urgência do hospital de Mirandela, ou seja, cerca de 47 mil habitantes dos concelhos do sul do distrito - Alfândega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Freixo de Espada à Cinta e Torre de Moncorvo – que necessitem de ser vistos por um profissional de saúde ligado à cirurgia geral, ou que tenham de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica urgente, estão a ser encaminhados para a urgência de Bragança.
Questionada, por escrito, a ULS do Nordeste ainda não respondeu à pergunta: para quando a reabertura daquela valência?
O município de Mirandela organizou um cordão humano de protesto, em novembro do ano passado. Em janeiro, os autarcas do sul do distrito de Bragança reuniram em Mirandela com a administração da ULS do Nordeste, que não deu qualquer data para a reabertura e, desde então, poucas ou nenhumas têm sido as novidades.
A única informação foi dada ao Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República, em fevereiro. Na altura, o gabinete de Manuel Pizarro, o então ministro da Saúde, revelou que os três cirurgiões “manifestaram a sua indisponibilidade para continuar a realizar serviço de urgência, o que se deve, fundamentalmente, à idade dos três clínicos em causa: um com 58 anos e dois com 68”.
Refira-se que os médicos podem optar por não trabalhar à noite nos serviços de urgência a partir dos 50 anos e, depois dos 55, podem pedir dispensa total do trabalho nas urgências.
Desde então, “não temos qualquer informação”, revela a presidente da Câmara de Mirandela. “Sabemos apenas que existe um grupo de trabalho ao nível do Ministério da Saúde e nada mais”, adianta Júlia Rodrigues.
“Queremos reabrir a urgência de cirurgia geral, acreditamos que a centralidade de Mirandela para todo o sul do distrito é necessária e indispensável a existência deste serviço e vamos retomar novamente este processo e fazer aprovar em reunião do executivo uma nova comunicação ao novo Governo para que olhe de forma coerente para este processo”, refere a autarca socialista.
Quem já não acredita na reabertura da urgência de cirurgia geral é Hernâni Moutinho, deputado municipal do CDS. “Não é possível ter esperança em relação a uma administração que, sistematicamente, desde há uns anos, vem desmantelando completamente o hospital de Mirandela, no sentido de liquidar aquilo que conquistamos com grande sacrifício de termos um serviço de saúde à altura das necessidades de uma região, que chegou a rondar as 100 mil pessoas de diversos concelhos, mas hoje o hospital de Mirandela está reduzido a um centro de saúde dos mais fracos”, diz.
Também Rui Pacheco, deputado municipal do PS, está muito pessimista quanto à possibilidade de reabrir aquela valência e critica mesmo a “falta de frontalidade” da ULS do Nordeste. “Com o avançar do tempo, é claro que nos custa cada vez mais acreditar que a urgência seja reaberta, apesar de todas diligências feitas por todas as entidades, a ULS nunca se manifestou minimamente interessada em resolver o assunto e parece-nos difícil de acreditar que estão não seja uma solução de carácter definitivo”, lamenta.
Já o único representante da CDU na Assembleia Municipal de Mirandela considera que o serviço “só encerra definitivamente se o povo desistir de lutar por um direito fundamental que é o direito à saúde”.
Jorge Humberto Fernandes não quer acreditar que o temporário passará a ser definitivo, mas “tudo nos leva a crer que é isso que está na mente deste Governo, porque nesta discussão do Orçamento do Estado não há abertura do Governo de haver mais recursos para o SNS, como também não há intenção de valorizar as carreiras dos profissionais de saúde”, acrescenta.
Em contraciclo parece estar Paulo Pinto, deputado municipal do PSD e líder da concelhia laranja, que ainda acredita que o atual Governo da AD possa reabrir o serviço. “Vamos acreditar que possa haver um volte face, até porque foi essa a promessa feita, à época, e como o Governo agora é outro, vou aproveitar para relembrar isso no meu partido nas reuniões da distrital, e faço fé para que essa situação seja revertida”, afirma.
Por agora, a única certeza é que continua encerrada a urgência de cirurgia-geral do hospital de Mirandela, sem data para reabrir.