Estudo em Guimarães conclui que ser vizinho das zonas verdes não chega para fazer bem à cabeça. Pessoas com mais dinheiro têm maior perceção da importância, mas vão lá menos.
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A Universidade do Minho (UMinho), o Instituto de Ciências da Saúde (ISAVE) e o Laboratório da Paisagem apresentam, hoje, em Guimarães, um estudo sobre o impacto dos espaços verdes na saúde física e mental. Uma das conclusões mais importantes do trabalho é que a frequência com que as pessoas usam os parques é mais determinante para a sua saúde mental do que a proximidade da residência aos espaços verdes. No caso da atividade física, conclui-se que indivíduos com rendimentos mais altos têm uma maior perceção da importância das zonas verdes, mas acabam por usá-las menos relativamente a quem não ganha tanto. Os dados apontam para a necessidade de estratégias que atraiam as pessoas aos parques.
Para Miguel Morgado, da Escola de Medicina da Universidade do Minho, “os resultados não deixam qualquer dúvida quanto à importância da frequência com que se usa os espaços verdes para a saúde mental”. O investigador sublinha que esta é uma das conclusões mais importantes deste trabalho. “Não basta viver numa zona com uma envolvente verde, próximo de um parque, é preciso fazer uso dele”, sublinha.
Meio milhar de inquiridos
Os investigadores inquiriram 501 moradores na envolvência de dois parques do Município de Guimarães - Ardão e Cidade. A amostra foi dividida entre as pessoas que vivem a mais e a menos de 300 metros destas zonas verdes. “A proximidade física aos parques não se revelou estatisticamente significativa, nem em termos dos sintomas psicológicos, nem na qualidade do sono”, lê-se nas conclusões. Para Miguel Morgado, é claro que “o valor protetor da natureza urbana reside menos na sua presença passiva e mais na experiência ativa e reiterada desses ambientes”.
Já no que toca ao impacto sobre a saúde física, os dados apontam para a importância da proximidade da residência aos parques para que as pessoas se envolvam em atividades de esforço moderado e caminhada. “Quem vive mais longe dedica, em média, menos tempo por sessão” à atividade nas zonas verdes. É curioso perceber que é entre os indivíduos com rendimentos mais elevados que a perceção da importância dos espaços verdes é maior, mas que são as pessoas que ganham menos que fazem mais uso deles.
Promoção é fundamental
Em face dos resultados, Miguel Morgado destaca “a importância de políticas públicas que não se limitem à construção ou à conservação de parques e zonas verdes, é preciso que promovam ativamente a sua utilização pela população". O investigador aponta medidas possíveis: “Fomentar a acessibilidade funcional, melhorar a segurança e a atratividade estética e criar programas de atividades físicas e sociais nestes espaços”.
Estratégia verde radial
Guimarães será Capital Verde Europeia em 2026 e tem em marcha aquilo que intitula “estratégia verde radial”, que passa pela construção de três anéis verdes, o primeiro, na zona urbana, e os seguintes já no exterior da cidade, um com 20, outro com 42 quilómetros. “Estes cinturões de árvores vão fazer a ligação entre as zonas verdes, os parques e as ecovias, melhorando a acessibilidade que é precisamente um dos problemas para que o estudo aponta”, esclarece Carlos Ribeiro, diretor-executivo do Laboratório da Paisagem. Quando estiver terminado, o último círculo deverá circunscrever 74% da população do concelho.
Alterações climáticas causam tristeza
Questionados sobre as alterações climáticas, as sensações mais invocadas pelos vimaranenses foram tristeza (32%) e impotência (23%). As pessoas também referiram sentimentos como mágoa, ansiedade e medo. O estudo evidenciou que os utilizadores mais frequentes dos parques apresentam sentimentos de maior preocupação. Guimarães tem em marcha um plano para atingir a neutralidade climática em 2030, com iniciativas como o “Pegadas”, que já envolveu 19 300 alunos e 1700 professores.