A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) vai monitorizar os impactes ambientais provocados pelo sistema eletroprodutor do Tâmega. Foi criado no distrito de Vila Real pela empresa espanhola Iberdrola e inclui as barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega.
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A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) vai monitorizar os impactes ambientais provocados pelo sistema eletroprodutor do Tâmega. Foi criado no distrito de Vila Real pela empresa espanhola Iberdrola e inclui as barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega.
Segundo o reitor da UTAD, Emídio Gomes, "este é um dos maiores acordos que a UTAD já celebrou em termos de prestação de serviços especializados", depois de ter sido "selecionada no âmbito de uma consulta pública da Iberdrola à qual concorreram várias universidades". Vai prolongar-se até 2028.
Vai caber ao Laboratório de Ecologia Fluvial e Terrestre desta academia, sediada em Vila Real, o "serviço de acompanhamento dos impactes ambientais da construção das três barragens no Alto Tâmega e Barroso", bem como a implementação das "medidas compensatórias ao nível do ambiente que o grupo Iberdrola assinou com o Estado português para ter esta concessão por 70 anos".
A coordenadora de Ambiente da Iberdrola, Sara Hoya, explica que, "apesar de os sistemas ecológicos já terem sido monitorizados antes e durante a construção das três barragens, o trabalho tem de continuar durante a fase de exploração", dado que é uma obrigação inscrita na Declaração de Impacte Ambiental.
Emídio Gomes especifica que o Laboratório de Ecologia Fluvial e Terrestre terá de acompanhar "o que vai acontecer à truta-de-rio, ao mexilhão-de-rio, à lontra e à avifauna", entre outras espécies dos concelhos abrangidos. No rio Beça, no município de Boticas, por exemplo, existe o mexilhão-de-rio (Margaritifera margaritifera). Por ser uma espécie ameaçada de extinção, esteve na base do processo que acabou por deitar por terra a intenção da Iberdrola de construir uma quarta barragem (Padroselos), no âmbito do sistema eletroprodutor do Tâmega. O mexilhão-de-rio é um bivalve não comestível, mas a sua existência está protegida por uma diretiva comunitária. A sua sobrevivência está dependente da qualidade da água do seu habitat e da existência da hospedeira truta-fário.
O reitor da UTAD acrescenta que outra dimensão do acordo celebrado com a Iberdrola engloba a criação de "medidas compensatórias, para que todo o ecossistema vegetal e animal daquela zona melhore ao longo dos próximos anos", procurando também "soluções inovadoras para a conservação dos ecossistemas do Tâmega". Em suma, "as condições futuras serão melhores do que as que existiam antes". Em termos financeiros, apesar de Emídio Gomes não revelar números, "é muito importante" para a UTAD e representa "alguns milhões de euros ao longo dos vários anos".
3000 milhões de euros da Iberdrola em Portugal
O sistema electroprodutor do Tâmega é um dos maiores projetos hidroelétricos dos últimos 25 anos na Europa. Segundo a Iberdrola, representa um investimento total de 1500 milhões de euros. Em pleno funcionamento, as três barragens têm capacidade para produzir mais de 1150 megawatts e armazenar energia suficiente para o consumo diário de "11 milhões de pessoas nas suas casas". A empresa espanhola pretende ainda investir mais 1500 milhões de euros em parques eólicos e centrais solares em Portugal.
Pormenores
Alto Tâmega
A coordenadora de Ambiente da Iberdrola, Sara Hoya, prevê que este aproveitamento comece a encher em outubro deste ano e a exploração se inicie no verão de 2024.
Daivões e Gouvães
Estes dois aproveitamentos hidroelétricos integrados no sistema eletroprodutor do Tâmega estão em fase de exploração comercial desde o verão de 2022.
Sete concelhos
A três barragens da Iberdrola abrangem os concelhos de Ribeira de Pena, Boticas, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Valpaços, Montalegre e Cabeceiras de Basto.