Utentes de Almada consideram preocupante situação do Garcia de Orta mas não imprevisível
A Comissão de Utentes de Almada considerou hoje preocupante, mas não imprevisível, o encerramento no sábado da urgência de obstetrícia do hospital Garcia de Orta, defendendo que a resolução do problema passa pela valorização dos profissionais de saúde.
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Em declarações à Lusa, Luísa Ramos, da Comissão de Utentes da Saúde do Concelho de Almada (CUSCA) disse não ter acreditado desde logo no sucesso da medida anunciada pelo Governo de que a partir de 1 de setembro o Hospital Garcia de Orta iria ter a urgência de obstetrícia aberta 24 horas por dia, com o reforço de médicos que estavam no privado e que iriam integrar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Quando ouvimos a ministra da Saúde informar que a partir de 1 de setembro tinha arranjado condições para a reabertura das urgências não deitámos muitos foguetes. Não acreditámos muito que as coisas se tivesse solucionado e resolvido para que médicos voltassem ao Serviço Nacional de Saúde sem a resolução dos problemas centrais", disse.
Luísa Ramos notou que a posição da comissão não difere do entendimento da Federação Nacional dos Médicos, que defende que a situação vai manter-se enquanto não houver investimento no SNS e na valorização dos profissionais de saúde.
"Estamos numa situação que dura há anos e que para nós só se mantém porque as políticas não foram no sentido de resolver o que está na base dos problemas do SNS e que leva ao seu abandono por parte dos profissionais e ao não regresso dos mesmos. É de facto uma estratégia de esvaziamento do SNS e do seu descrédito", salientou, insistindo que o encerramento, no sábado, da urgência de obstetrícia e ginecologia do Hospital Garcia de Orta, no distrito de Setúbal, é preocupante e causou indignação, mas não foi uma surpresa.
Fragilidade do SNS
O Observatório da Violência Obstétrica denunciou hoje que o encerramento da urgência de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Garcia de Orta (Setúbal) "expõe de forma brutal a fragilidade" do SNS e exigiu respostas políticas.
"O encerramento da urgência de obstetrícia do Hospital Garcia de Orta, em Almada, expõe de forma brutal a fragilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na resposta às necessidades de mulheres, grávidas, bebés e famílias. O OVO Portugal denuncia este encerramento como uma forma de violência institucional e obstétrica, que limita o acesso a cuidados essenciais e coloca vidas em risco", lê-se em comunicado.
Encerramento inesperado
O Ministério da Saúde anunciou no sábado o encerramento inesperado da urgência de obstetrícia e ginecologia do Hospital Garcia de Orta devido à falta de médicos para assegurar as escalas, obrigando à deslocação das utentes para unidades de Lisboa por inexistência de resposta na Península de Setúbal.
"Este fim de semana, sem que nada o fizesse prever e à última hora, os médicos prestadores de serviços que asseguram regularmente que as populações da Península de Setúbal têm o serviço que lhes é devido, manifestaram a sua indisponibilidade", esclareceu o Governo em comunicado.
Entretanto, e depois do encerramento inesperado no sábado e condicionamento do serviço no domingo, as urgências de obstetrícia e ginecologia do Hospital Garcia de Orta reabriram hoje às utentes.
Segundo o portal do SNS, o serviço de urgência reabriu às 08:30, informação confirmada à agência Lusa por uma fonte oficial da Unidade Local de Saúde Almada Seixal.
Durante o dia de domingo e até às 08:30 de hoje, as urgências de obstetrícia e ginecologia apenas receberam os casos encaminhados pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
De acordo com as escalas publicadas no portal do SNS, não se prevê, até domingo, o encerramento do serviço do Hospital Garcia de Orta.
Hoje estão encerradas, na Península de Setúbal, as urgências destas especialidades no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, e no Hospital São Bernardo, em Setúbal.
O Hospital Garcia de Orta, que iniciou a sua atividade em setembro de 1991, pertence à Unidade Local de Saúde Almada-Seixal e, segundo informação oficial, serve atualmente uma população estimada em cerca de 350 mil habitantes dos concelhos de Almada e Seixal.