Um touro com 550 quilos de peso está a postos para sair, esta quarta-feira ao final da tarde, às ruas de Ponte de Lima para cumprir a tradição da Vaca das Cordas. A organização teme que o calor enfraqueça o animal que se quer bravo.
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Esta terça-feira, a temperatura máxima foi de 38 graus naquela vila, mas, para quarta-feira, esperam-se 31 graus. “Está muito calor. Se continuar assim, não sei. É um touro muito bonito, aí de uns 550 quilos, para fazer a festa da Vaca das Cordas, mas, se estiver um calor como o que de hoje [ontem], não sei se há touro que aguente. Vamos tentar soltá-lo o mais tarde possível”, conta Aníbal Varela, de 63 anos, que organiza a a festa há 42 e, em criança, já acompanhava o avô Alcino Dantas, responsável pelo “reavivar da tradição”.
No momento em que falava ao JN, os termómetros em Ponte de Lima marcavam quase "40 graus”. “Não há animal que aguente uma coisa destas”, sublinha. “Para correr bem, tem que o touro nos ajudar e o animal, é como os seres humanos, com o calor não temos a mesma adrenalina de que com o tempo mais fresquinho”.
Banho de vinho tinto
A tradição centenária da Vaca das Cordas realiza-se todos os anos, na véspera do feriado do Corpo de Deus, e enche a vila de Ponte de Lima com largos milhares de pessoas.
Um touro é levado para as ruas ao final da tarde (cerca das 18 horas), guiado por cordas seguradas por vários homens. Primeiro, é conduzido à Igreja Matriz, onde o obrigam a dar três voltas ao templo e o banham com vinho tinto. Segue, depois, para o Largo de Camões e para areal junto ao rio Lima pelo meio da multidão. Os mais afoitos desafiam o animal e arriscam-se a levar marradas. É habitual alguns ficarem feridos, o que Aníbal Varela considera um “bom sinal”.
“Faz parte da tradição. Se não for assim, alguém ir para o hospital, a Vaca das Cordas não presta”, afiança. A festa popular, que também atrai espanhóis, continua pela noite dentro nos bares do centro histórico com música e animação. É uma tradição secular associada às celebrações religiosas do Corpo de Deus [a primeira referência foi no Livro de Vereações do Arquivo Municipal de Ponte de Lima, no século XVII].