Milhares de pessoas ficaram a conhecer o Regimento de Transmissões, na Circunvalação, no Porto. Organização militar merece elogios.
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"Não quero sair daqui, já disse ao meu comandante". Conceição Guimarães, enfermeira civil e responsável pelo centro de vacinação que tornou famoso o quartel do Regimento de Transmissões do Porto, tem o riso abafado na máscara. Bem sabe que o coronel Albuquerque Barroso, que comanda esta unidade do Exército, não é seu "comandante", mas a simbiose é tão perfeita que, aos 40 anos de profissão, descobriu que aqui se sente "como peixe na água".
"Temos a ganhar com os militares, porque têm uma formação diferente. Tenho de reconhecer que, em termos de planeamento e organização, eles de facto dão cartas", aplaude a profissional do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Porto Ocidental. Mais contido, o comandante da unidade fala em "grande flexibilidade" e "cooperação". E lembra: "para nós também tem sido uma aprendizagem".
O centro de vacinação arrancou no segundo dia de junho de 2021, abrindo as portas do Regimento de Transmissões à população. Conceição Guimarães garante que "é um ótimo casamento". Que se fez em tempo recorde, com a unidade a adaptar-se para receber milhares de pessoas por dia, uma dinâmica que nunca fez parte das rotinas do quartel. "Tivemos de fazer algumas alterações. Não tínhamos outro edifício que tivesse as condições que eram pretendidas a nível de espaço", explica o coronel Albuquerque Barroso, adiantando que precisaram de "disponibilizar metade das instalações do centro de formação" e abdicaram, por exemplo, do pavilhão gimnodesportivo. Todas as atividades, incluindo as do Dia da Defesa Nacional, ficaram em zonas "estanques".
"Está a correr muito bem"
"Tiraram todo o equipamento em poucas horas; foram extremamente eficazes. Rapidamente, as máquinas saíram do ginásio", recorda a diretora-executiva do ACES, assegurando que esta "é uma experiência que está a correr muito bem". Tanto, que Carla Ferraz não poupa elogios aos militares: "Vivo no Porto, e não fazia ideia do que se passava aqui dentro. A ideia que tinha é de que era uma unidade fechada. Mas são extremamente organizados, disciplinados e muito flexíveis e proativos. E vestem a camisola".
Por outro lado, a população tem reagido bem a esta interação com o mundo militar. "Tivemos uma boa aceitação. Continuamos com o nosso dia a dia; já houve cerimónias e as pessoas assistiram e aplaudiram", conta a major Sílvia Gomes.
"Vamos ter muitas saudades"
Apesar de a requisição inicial ter sido por meio ano, a unidade responsável pela componente de comunicações e sistemas de informação do Exército vai continuar a ser o quartel das vacinas pelo menos até junho deste ano, para que o ACES possa dar resposta à administração da terceira dose. "Estamos aqui para apoiar a população, e esta é mais uma missão que nos foi atribuída e que cumprimos", reforça o comandante da unidade. Mas a enfermeira Conceição já antevê o fim do "casamento": "Vamos ter muitas saudades disto".
Pormenores
Milhares de vacinas
No centro de vacinação do Regimento de Transmissões já foram feitas 242 836 inoculações desde a abertura das instalações, a 2 de junho de 2021. Segundo a diretora do ACES, "no pico" da vacinação, o quartel chegou a receber três mil pessoas por dia.
Mudança de planos
No início, o plano era pôr o acesso ao centro de vacinação a funcionar no portão norte do quartel, pela Estrada da Circunvalação, o que seria mais direto. Mas, dado o enorme fluxo de utentes previsto, e consequente congestionamento da estrada com viaturas, o acesso foi reformulado e acabou por ser através da porta de armas, com percursos bem definidos no interior.