O sobrolho carregado das poucas pessoas que circulam pelas ruas do Bairro do Cerco, no Porto, denuncia o clima de medo instalado pela onda de assaltos a casas e carros, e nem as associações de solidariedade social escapam.
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Os apartamentos são assaltados, por vezes, mesmo na presença de moradores, para furtar essencialmente televisores e computadores. A população não duvida de que o material é recolhido para ser vendido e há quem culpe as obras de reabilitação do bairro.
Um dos assaltos a uma das habitações, cujo prédio está a ser intervencionado, ocorreu enquanto um rapaz de 17 anos dormia sozinho no quarto. O jovem não se terá apercebido da situação, mas a família já apresentou queixa.
A PSP diz que "não se verifica um aumento da criminalidade geral" no bairro em relação ao ano passado, mas no mês de junho "registou algumas ocorrências participadas por associações, devidamente remetidas à Autoridade Judiciária ".
Por sua vez, a Câmara do Porto afirma "desconhecer que se viva um sentimento de insegurança associado às obras em curso".
"Aliás, as obras decorrem há mais de dois anos, faseadamente, e não temos qualquer comunicação de assaltos associados", refere a Autarquia. No entanto, numa reunião com as associações, a Câmara terá admitido trocar novamente as portas das instituições por umas mais seguras, revela a Associação Portuguesa de Deficientes (APD).
Algumas dessas instituições foram assaltadas "duas vezes na mesma semana", algo que "nunca tinha acontecido". Acusam a Câmara de "privilegiar a estética sem pensar na segurança".
"Da primeira vez conseguiram arrombar a porta [nova] e vieram ver o que podiam levar. Da segunda, não foi preciso. Entraram com um pé de cabra", revela António Almeida, da APD, garantindo que foi a primeira vez em 24 anos que a organização foi assaltada. Tudo porque "decidiram retirar a porta blindada, antibala, com quatro trincos e sistema de alarme" por "motivos de estética", afirma.
"Um mês depois das obras terem terminado, fomos assaltados", revela Sandra Cavacos, de 39 anos, diretora técnica do ATL, garantindo que a porta anterior já tinha sido reforçada.
portas "convidam ao assalto"
"A porta nem sinais tinha. Roubaram quatro computadores, telemóveis, um micro-ondas, o televisor, detergentes e comida que íamos entregar ao Banco Alimentar", conta a diretora. Também no assalto à APD levaram equipamento informático e 150 euros. António Almeida, de 63 anos, não tem dúvidas de que tudo se deve "às portas muito frágeis", que "convidam muito ao assalto".
