O apoio à construção da Academia de Futebol no Porto reacendeu o conflito entre os municípios do Porto e Valongo. Com o autarca José Manuel Ribeiro a rejeitar qualquer contribuição financeira à obra, o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, sugeriu ao edil avaliar a sua eventual saída da Área Metropolitana.
Corpo do artigo
Durante a reunião de Conselho Metropolitano do Porto desta sexta-feira, o presidente da Câmara de Valongo, José Manuel Ribeiro, leu uma declaração de voto após a discussão do apoio à construção da Academia de Futebol, - no qual não irá participar -, e reagindo à postura "desagradável e ofensiva" de Filipe Araújo. O vice-presidente da Câmara do Porto, perante a segunda vez em que Valongo recusa participar em investimentos no concelho (a primeira foi a propósito de obras de requalificação do Coliseu do Porto), afirmou que "o princípio de solidariedade e de pertença de Valongo à Área Metropolitana do Porto (AMP) vale zero euros", sugerindo que "repense" a sua participação naquele órgão.
Recorde-se que a empreitada para a Academia da Associação de Futebol do Porto arrancou no final do passado mês de janeiro e a proposta de apoio financeiro que foi esta sexta-feira a votos no Conselho Metropolitano define valores diferentes de contribuição entre os municípios que pertencem ao distrito do Porto. De acordo com o presidente da Câmara da Trofa, Sérgio Humberto, que presidiu à reunião na ausência do autarca de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, "o Porto apoiará a candidatura com 750 mil euros. Gaia, Maia, Matosinhos e Gondomar com 500 mil euros cada e Paredes, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde com 200 mil euros". Já Valongo contribuirá "com zero euros".
Novas infraestruturas desportivas não são prioridade nos fundos europeus
O presidente da Câmara de Valongo justificou a sua não contribuição pelo facto de a construção de infraestruturas desportivas continuar a "constituir prioridade negativa nos fundos europeus".
José Manuel Ribeiro começou por referir, lendo a sua declaração de voto, que "passaram mais de 20 anos desde a construção dos dez estádios de futebol para o Euro 2004, importante competição que nos encheu de orgulho, mas que em contrapartida levou a União Europeia a considerar negativo o apoio a novos investimentos em infraestruturas desportivas independentemente de serem ou não ligadas ao futebol, decisão muito negativa para o desporto em geral, pois o mundo do desporto não se resume felizmente ao futebol". Desde então, refere, tanto as autarquias como as associações desportivas "nunca mais conseguiram financiamento europeu para novas infraestruturas". O mesmo acontece no programa Portugal 2030, sublinhou.
O autarca acrescentou ainda que "não são nada claros os motivos que levam a tentar defender que o novo equipamento desportivo da Associação de Futebol do Distrito do Porto, um desporto que move milhões, possa ser considerado de interesse metropolitano".
Por fim, dirigindo-se ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que não esteve presente, o autarca socialista afirmou: "Valongo não presta vassalagem Porto, ponto". O edil acusou o autarca portuense de exercer essa pressão às restantes autarquias com assento na AMP. "É quem tenta mandar em todos nós", reforçou. Por isso, para o socialista, a posição que tomou não se traduz em falta de solidariedade, mas sim numa forma de rejeitar "subordinação metropolitana".
No final da reunião, - onde estiveram representados 13 dos 17 municípios da AMP -, o autarca de Valongo abandonou a sala rapidamente, mas Filipe Araújo aproveitou a ocasião para sublinhar, em declarações aos jornalistas, que não acredita que os munícipes de Valongo se revejam nas atitudes de José Manuel Ribeiro e manteve a sugestão de uma eventual saída do autarca da AMP.
Filipe Araújo considera que o presidente da Câmara de Valongo vê o seu município como "a aldeia do Asterix". "A aldeia que quer estar fora, não quer participar nos projetos metropolitanos. É uma visão do seu presidente para o município. Se acreditamos no espírito metropolitano e se acreditamos que há instrumentos metropolitanos na área da cultura, na área do desporto, e até noutras áreas que podemos potenciar, então todos temos que prescindir um pouco das verbas que nos foram atribuídas pelos fundos europeus", afirmou o vice-presidente da Câmara do Porto, recusando qualquer comentário à reação e acusações de José Manuel Ribeiro.
"O município de Valongo, que faz parte do distrito do Porto e que tem muitos jovens e crianças que certamente praticam este desporto, não se reverá neste pressuposto", disse.