Recorde na produção de azeitona põe olivicultores em filas. Extração de azeite pode chegar ao Natal.
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A abundância de azeitonas, uma época "nunca vista" nas palavras dos olivicultores, está a deixar sem capacidade de resposta rápida os lagares da região de Castelo Branco. Os lagareiros falam já que a extração de azeite vai este ano prolongar-se além do que é normal. Pode mesmo chegar ao Natal.
A laborarem na capacidade máxima, os lagares não conseguem rececionar produções de azeitonas que este ano triplicam, ou mais, em cada produtor. Assim, no exterior destas estruturas formam-se filas de carros, tratores e carrinhas a aguardar a vez para entregar azeitonas, o que pode demorar dias.
João Pires, 67 anos, chega de Monfortinho, Idanha-a-Nova. Chegou ao lagar de Salvador, concelho vizinho de Penamacor, por volta das quatro da manhã de terça-feira, dia 23. São 18 horas de quinta-feira, dia 26 e ainda está à espera. "Já cá dormi duas noites, se calhar ainda vou cá dormir mais uma", diz enquanto abana os ombros. É o conformismo perante a evidência de um ano "inédito".
Até 120 toneladas
Joaquim Justino é proprietário deste lagar há mais de 20 anos. "Esta é uma campanha fora do normal em que a produção de azeitona de cada um triplica e quadruplica em relação aos melhores anos", diz.
Dia e noite este lagar transforma no máximo 120 toneladas de azeitonas. Só pára para descarregar o bagaço que uma empresa transporta para local apropriado no Alto Alentejo. A pressão sobre as máquinas é enorme. "Trabalhámos até à meia-noite, duas da manhã. Este ano o lagar está a trabalhar no máximo dos máximos", afirma Joaquim Faustino. "Nunca vi um ano assim", conclui. Os mais novos surpreendem-se. Inês Andrade e o namorado, Paulo Lourenço, vieram apanhar a azeitona dos avós, na Bemposta, Penamacor. "Apanhamos estes 500 quilos de azeitona. Temos mais uma quinta com 10 a 12 oliveiras que, se calhar , não vamos apanhar, porque não temos sítio onde guardar a azeitona. E o tempo que estamos aqui à porta do lagar não estamos no olival".
Portões para lareira
Em Monforte da Beira, a poucos quilómetros de Castelo Branco, no lagar gerido pelos irmãos Manuel Abílio e João Ramos há cerca de 35 anos, o cenário repete-se. Este ano não fecha às 19 horas como era habitual, mas às 2 horas para descanso do pessoal. Os portões ficam abertos para que os clientes possam usufruir de uma grande lareira para a qual o lagar disponibiliza lenha.
Sónia Mendes, da Zebreira, Idanha-a-Nova, trouxe o jantar para o marido que está na fila. A comida acaba repartida pelos "amigos" que se fizeram na rua.
"A carrinha da azeitona tem três lugares e caixa aberta. Já ali dormimos toda a noite sentados, ao frio", recorda o marido, mais satisfeito com a chegada da mulher com uma carrinha fechada e um colchão que vai ajudar a descansar melhor.
Sem capacidade
O lagar de Monforte da Beira tem capacidade para moer 3200 toneladas por dia. "Não temos capacidade para mais", refere Manuel Abílio. A partir desta semana este lagar passou a moer apenas azeitona sob prestação de serviço, ou seja, por 10 cêntimos o quilo.
"Vamos deixar o sistema do produtor deixar parte da produção. Não temos já espaço para tanto azeite!".