Há quem rompa a vedação para cortar caminho. Câmara e Infraestruturas de Portugal garantem passagens pedonais.
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Com a construção da variante à EN14, o habitual percurso de 15 minutos a pé de Fernando Borges, de casa ao posto médico do Castêlo da Maia, transformou-se num custoso caminho de quase três quilómetros. O homem, de 77 anos, já caiu três vezes ao tentar atravessar a via, ainda em fase de acabamento, como forma de encurtar a viagem. "Por acaso tive sorte. Mas o problema não é o que está feito, mas sim a solução que vão dar a isto", refere o maiato. Sem ligação, os moradores cortam constantemente a vedação das obras para poupar no trajeto.
A nova artéria, designadamente o troço em construção, entre o nó do Jumbo e a Via Diagonal, divide a freguesia do Castêlo da Maia e deixa parte da população "isolada". A empreitada deverá ficar concluída no próximo mês. Manuel Rocha, de 58 anos, acredita que, mesmo depois da via estar aberta ao trânsito, "as pessoas vão continuar a cortar a vedação [para cortar caminho] e vão ser atropeladas". A Infraestruturas de Portugal (IP), responsável pela estrada, garante que estão previstas passagens pedonais.
A Câmara da Maia afirma ter recebido algumas queixas e que acordou com IP a construção de pelos menos duas travessias. A empresa confirma que o projeto inicial definiu uma passagem superior de peões junto ao Nó com a Via Diagonal e que, após vários pedidos, prevê-se a implantação de uma segunda passagem para peões na variante à EN14.
sem transporte público
"Estou a um quarto de hora do centro de saúde e não consigo passar", lamenta Maria Gomes, de 55 anos. A osteoporose dificulta-lhe o trajeto que, normalmente, fazia graças à linha 28 da Maia Transportes, que também desapareceu. "Agora não há carreira. Claro. Não conseguem passar. Temos de ir a Barca. É quase um quilómetro para apanhar uma camioneta", critica. A Autarquia sustenta que a operadora garantiu manter aquela linha, ajustando o percurso "à nova realidade de circulação" após a conclusão das obras.
O certo é que a Rua Serafim da Cruz era a ligação utilizada pelos moradores da zona. Agora, o acesso ficou cortado em dois. "Isto era um campo e tinha ali a rua. Para passarem para o lado de cá, as pessoas já arrombaram as grades umas dez vezes. Todos os serviços de primeira necessidade estão deste lado", refere Manuel Rocha, alertando para a quantidade de crianças que, em tempo escolar, atravessam aquela rua.
Pela proximidade ao agrupamento de Escolas do Castêlo da Maia, será construída, naquela zona, uma "travessia aérea" sobre a variante, que "evitará riscos desnecessários e permitirá a travessia em segurança". Isto, "desde que as pessoas a utilizem e não queiram correr riscos".
Café às moscas desespera Maria Adelaide
Há 40 anos que o rés do chão da casa de Maria Adelaide, na Rua de Avioso, no Castêlo da Maia, foi transformado num café. O espaço sempre foi arrendado, mas desde que as obras da variante começaram e as passagens foram cortadas, "o inquilino saiu". Agora, é Maria Adelaide que tenta segurar o negócio com a ajuda do filho, Manuel Rocha. "Estamos a tentar desenrascar algum dinheiro, mas não há clientes", lamenta Manuel. De reforma, Maria Adelaide recebe cerca de 480 euros. A renda paga pelo inquilino do rés do chão ajudava a aumentar os rendimentos mensais. Mas agora "o café está às moscas", lamenta. "Vinha cá esta gente toda, dali da Barca, de Avioso, vinha tudo aqui parar. Agora não aparece ninguém. Isto não se admite. Nem uma passadeira isto tem", revolta-se. O filho, Manuel Rocha, criou uma petição pública online a pedir uma "passagem superior para peões e veículos na variante à EN14". A reclamação conta com 267 assinaturas.