Toda a área comum do centro comercial, inaugurado há 45 anos, no Porto, será renovada, para o tornar mais atraente a novos públicos. Meio milhão de euros investidos.
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Faziam-se filas para entrar e os corredores estavam "constantemente apinhados de gente". Foi a primeira "catedral de consumo" criada logo após a revolução de Abril de 1974 e os portugueses estavam dispostos a comprar. Mas, 45 anos depois, o centro comercial Brasília, no Porto, precisa de obras. Há muito decadente e datado, vai agora ser reabilitado num projeto que promete dar nova vida ao shopping através de um investimento de meio milhão de euros. As obras devem avançar no final do primeiro trimestre do próximo ano.
A grande alteração será nos espaços comuns. Vai-se aumentar a altura dos tetos, mudar todo o piso, potenciar a luz natural, criar-se espaços de descanso e colocar vegetação. Todo o centro comercial será remodelado e modernizado. "Sem se alterar a estrutura, porque o Brasília passou de datado para quase uma espécie de arqueologia arquitetónica", explica Luís Pinho, administrador do espaço. O objetivo é que depois os lojistas aproveitem também para remodelar os seus estabelecimentos.
As famosas escadas rolantes, que na altura da inauguração foram a principal atração por serem as primeiras da Península Ibérica, atraindo milhares de pessoas, vão ser mantidas. Já a larga escada interior desaparecerá para dar lugar a uma área de descanso. Vários sofás serão distribuídos pelo shopping com esse intuito. Todas as placas publicitárias nas paredes que geram "poluição visual" serão retiradas e a calçada do passeio exterior da rotunda será prolongada para o interior do centro comercial. Contudo, a sala de Cinema Charlot está à venda. A fachada será remodelada. Ficará em vidro transparente.
Novos investidores
"Com esta renovação esperamos atrair novos investidores. Aqui nunca poderemos ter as grandes marcas-âncora, até porque as nossas lojas são pequenas. Não podemos, por isso, competir com os outros grandes centros comerciais, mas queremos ter uma oferta o mais diversa possível e especializada em alguns produtos", acrescenta Luís Pinho. Mudar o público-alvo é também a missão da requalificação, atraindo novas gerações. O Brasília tem 243 lojas, mas apenas 65% estão ocupadas. Algumas estão ali quase de início, como é o caso da Strass, que vende decoração e cristais. "Os meus pais abriram esta loja três anos depois da inauguração do shopping e lembro-me bem desses tempos, com milhares de pessoas a circularem pelos corredores todos os dias", diz Sofia Silva.
Cristina Lima gere a boutique Kalinka há 36 anos. "Acho que devia haver mais lojas a funcionar e um horário comum de abertura e de encerramento das lojas. E uma praça da alimentação, que faz muita falta", defende.
Aos mais antigos juntam-se os novos e alguns com enorme sucesso como é o caso do Mundo Fantasma, considerada a meca da banda desenhada no Porto e o Sushi in Sushi, restaurante de comida japonesa que mais pedidos tem na plataforma Uber Eats, de entregas ao domicílio.
Nasceu em 1976
O Centro Comercial Brasília foi inaugurado a 9 de outubro de 1976. Desde então nunca sofreu obras profundas. Tem seis pisos, numa área total de 63 mil metros quadrados, e um parque de estacionamento com capacidade de 400 lugares.
Questionário
O projeto de remodelação pertence ao arquiteto João Ferros que já apresentou aos comerciantes todas as reformulações que estão previstas. Em julho, João Ferros lançou o desafio ao público do Brasília com um breve questionário, designado Faz Parte, que se revelou nuclear para o projeto.