A crise que assombra meio mundo parece não contagiar os presépios artesanais. Pelo menos, em Santo Tirso, onde até depois de amanhã decorre uma feira. Entre os artesãos esticam-se sorrisos: as previsões de vendas satisfazem.
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Assim é com Osório. Quase incrédulo com as encomendas recebidas apenas ao longo dos primeiros 45 minutos da IV Feira Internacional de Presépios, que ontem abriu portas no átrio dos Paços do Concelho de Santo Tirso, fazia as mãos trabalharem com avidez um pedaço de madeira de onde nasceria mais um presépio.
É que as peças que havia trazido para vender escoavam irremediavelmente, perante a alegria incontida do são-tomense, um dos dois artesãos africanos entre os 24 participantes do certame. "Está a correr bem", confirmava, absolutamente radiante; a simplicidade a descontrair-lhe gestos e discurso. Definitivamente, Osório não vinha preparado para tanta bonança… Iniciou-se na arte há uma década, com 26 anos de idade, e adora ter público enquanto talha a madeira, confessa. Pode ser encontrado no primeiro andar do edifício, junto ao salão nobre.
Duas notas de 100 euros. É o moçambicano N'Taluma quem as recebe. João Tavares, sexagenário chegado de Oliveira de Azeméis, acabara de adquirir, porventura, o 504.º ou 505.º presépio. Não arrisca jogar com os números. A mulher aventura-se: "Se calhar, são mais de 500. Já há muito tempo que não os conto".
Autodefine-se como "ajuntador", mas, verdadeiramente, João Tavares colecciona "presépios de todo o Mundo" - como, de resto, grande parte dos visitantes da feira. Gasta "muito dinheiro por ano" em artesanato - de novo, opta por não fazer contas - mas, admite, a crise forçou-o a "reduzir um pouco" nos investimentos. Ainda assim, parte para a banca de Osório: "Tenho uma encomenda ali em S. Tomé", sorri.
No rés-do-chão, o negócio também não ia mal. De todo: dois minutos apenas tinham passado sobre o arranque oficial da feira - a abertura estava marcada para as 15 horas - e já havia quem tivesse vendido uma dezena de exemplares. Sem surpresas, o stand de Júlia Ramalho, neta da célebre Rosa Ramalho, imortalizada como figura maior da olaria tradicional portuguesa, era um dos mais concorridos. "Um, três... 10 vendidos. Não, 11. Vendi 11", acertava a artesã. "E dois grandinhos e únicos, que eram encomenda", regozija-se. Foi Ângelo Neto, de Paços de Ferreira quem os levou. Foi para casa com três, para somar aos cerca de 120 que possui. Crise? "Isto foi encomendado em Agosto, na altura da retoma", ri.
José Mendes Afonso esculpia em pedra de sabão. Veio de Bragança para vender e nem quer ouvir falar em crise: "Deve-se comprar e deixar essa palavra".