Nunca uma catástrofe de tamanha dimensão e violência tinha sido sentida pelos habitantes do Funchal como aquela que ontem lhes entrou pela porta dentro. "Foi horrível e muito assustador", desabafou, ao JN, Neusa Abreu, que vive próximo da Baixa e sentiu a casa estremecer várias vezes devido à força da água que corria rua abaixo.
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Esta professora de música viveu momentos de angústia a meio da manhã, quando percebeu que o centro da cidade estava completamente alagado e seria difícil ir buscar o filho. "Foi uma aflição muito grande. As ruas pareciam autênticas ribeiras e passámos em alguns locais em que tivemos de nos desviar para não sermos arrastados", contou. "Passámos por uma rua em que vi uma pessoa morta a boiar. O meu filho entrou em pânico", sublinhou.
Além do filho, Neusa Abreu levou consigo um adolescente de 13 anos, que não sabia da família e não conseguia entrar em contacto com os pais. Só a meio da tarde conseguiu comunicar com o pai, que o foi finalmente buscar.
No centro do Funchal, várias casas ficaram inundadas ao nível do tecto. Houve pessoas aos gritos nas ruas, por sentirem-se impotentes para travar a onda de destruição. Algumas tiveram que ser resgatadas das habitações e dos carros por barco.
No topo da Rua da Pena, os bombeiros tiveram que resgatar o corpo de uma criança que estava preso no entulho arrastado pelas águas. Ao que tudo indica, terá sido atingida pela torrente que arrastou vários carros, alguns com pessoas no interior.
Na Camacha, no município de Santa Cruz, viveram-se também momentos dramáticos. Cláudia Ferrão recordou, a meio da tarde, ainda muito emocionada, o medo que ela e o marido sentiram logo pela manhã: "Estávamos a dormir quando, de repente, ouvimos a ribeira rebentar. Arrastou os nossos carros e derrubou um muro com 15 metros de altura. Tivemos que fugir com a roupa que tínhamos no corpo. Não havia estrada, só buracos. Pedimos ajuda no meio do caminho a um senhor que parou o carro e nos deu boleia".
Em São Roque, o dono de uma casa na Estrada Comandante Camacho de Freitas desapareceu, depois de o ribeiro ter transbordado e levado parte do quintal.
* com Agências