Infraestruturas de Portugal chumbou projeto da Câmara de Matosinhos para o futuro viaduto que atravessará a A28. Empreitada foi interrompida e quem sofre são os residentes, que têm os acessos cortados.
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Em causa está o futuro viaduto que atravessará a A28, em Matosinhos. A obra de ligação entre a Barranha e a Cruz de Pau (Senhora da Hora) começou, mas foi interrompida. A Câmara de Matosinhos apresentou à Infraestruturas de Portugal (IP) um projeto de condicionamento da A28, para o tempo da empreitada, mas teve um parecer desfavorável. Enquanto dura o impasse, quem sofre são os moradores da zona envolvente do Estádio do Mar, que ficaram com os acessos cortados. "Estamos encurralados", desabafou, entristecido, António Alves.
"Fui à Câmara duas ou três vezes. Entretanto, recebi uma carta. Vamos ter de aguardar durante cerca de três anos até a obra terminar", adiantou António Alves. O atraso já leva vários meses, após os trabalhos terem sido suspensos no ano passado.
Ao JN, a Autarquia reiterou o discurso de Luísa Salgueiro proferido, este mês, numa reunião camarária. Na altura, a autarca afirmou "tratar-se de uma empreitada decisiva para garantir melhores condições de mobilidade" e reconheceu que a paragem "está a causar um grande transtorno na vida das pessoas, que estão há muito tempo com os acessos cortados". Luísa Salgueiro pediu "desculpa" aos moradores e apelou à "tolerância e compreensão" dada a demora.
Na envolvente do Estádio do Mar, mais em concreto nas imediações da antiga bancada do topo norte, que foi destruída, são ainda visíveis as palavras de contestação pintadas nas redes. Algumas já foram apagadas. Outras mantêm-se: "Miséria, enclausurados, queremos passar, pedra da vergonha".
"Fiquei atolado com a mota"
No momento da reportagem, blocos de cimento continuavam a impedir o acesso à zona de obra. Os residentes, que antes de começar a intervenção utilizavam esse caminho para circular de carro e chegar ao túnel sob a A28 para aceder à Senhora da Hora, estão revoltados. Ultimamente, a área junto às casas foi alcatroada, mas quem lá mora não esquece o anterior mau estado, sobretudo nos dias de chuva. "Fiquei atolado, com a minha mota. Estava tudo enlameado", queixou-se Vítor Almeida, acusando os responsáveis de "falta de sensibilidade".
Ao JN, a IP fez saber que a Câmara terá de refazer o projeto de condicionamento, a fim de receber o respetivo aval e a autorização para avançar com a construção da passagem por cima da A28. Não foram divulgados prazos acerca desta tramitação. Na altura do anúncio da empreitada, Luísa Salgueiro disse que a futura travessia teria a forma de um "M", relativo a Matosinhos, mar e movimento.
Impotentes sentem-se os habitantes. Impera a frustração. António Alves falou das voltas que é preciso dar. "Agora, para irmos de carro à feira e aos hipermercados, na Senhora da Hora, temos de ir ao centro, à estrada da linha do metro", lamentou.
No mesmo sentido manifestou-se Vítor Almeida. A juntar ao tempo extra que uma ambulância terá de despender, aludiu às dificuldades das pessoas com mobilidade reduzida e que usam cadeira de rodas. "As condições são muito más", anotou, desgostoso, o residente.