Trajetos mais "críticos" levam muitos toxicodependentes e grupos com comportamentos violentos. Operadoras reforçam vigilância.
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Com os transportes gratuitos devido à pandemia da Covid-19, autocarros da STCP e veículos do metro têm sido usados cada vez mais por toxicodependentes e grupos com comportamentos agressivos, causando insegurança e inquietando os restantes passageiros e os próprios motoristas. As operadoras já avançaram com medidas para tentar minimizar o problema.
"Está-se perante uma nova realidade que se enquadra no contexto que vivemos. Não se trata de linhas que, anteriormente, fossem conotadas de problemáticas, pelo que se crê que este fenómeno está associado à não exigência de validação de títulos", diz ao JN a STCP, que reforçou a segurança colocando fiscais em algumas ligações.
Já a Metro do Porto, que se deparou com o mesmo problema nas zonas do Viso e Ramalde, decidiu "reforçar as equipas de fiscalização e de segurança" devido a "fenómenos de incivilidade".
"A STCP optou por colocar vigilantes em algumas linhas por ter recebido queixa de passageiros, aparentemente não habituais que perturbavam as viagens, os clientes e motoristas", esclarece a operadora rodoviária. As linhas mais problemáticas são a 200, a 204, a 207, a 500, a 502 e a 504. Trajetos que passam em "zonas críticas" do Porto como a Pasteleira e Pinheiro Torres, diz Eduardo Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte.
"Nas zonas da cidade onde há mais sem-abrigo, há um pico de procura. Os toxicodependentes são um efeito colateral de não se pagar a utilização", explica o dirigente sindical, também motorista da STCP. Apesar de não haver registo de incidentes, Eduardo Ribeiro sublinha que muitos motoristas sentem-se inseguros.
"Muitos entram a fumar, em grupos, sem distanciamento e se o motorista chama à atenção algum deles ou faz algum reparo, fazem logo ameaças", explica Paulo Carvalho, fiscal da empresa de segurança privada 2045.
Desde segunda-feira que acompanha as viagens nas "rotas críticas". "Tentamos proteger os motoristas, mas também os passageiros. Se o autocarro estiver no limite legal, não deixamos entrar mais ninguém", explica.
Tensão no autocarro
No 204, autocarro que liga o Hospital de S. João à Foz, o dia parece ser normal, não fossem as máscaras e as luvas de proteção de alguns passageiros. A viagem começa com Alcina Carvalho, de 70 anos, e o primo. "Sei que tenho de estar em casa, mas tive mesmo de sair para vir aos Correios", explica a mulher, que diz saber que a linha em que circula é "de risco". "Sinto-me insegura, mas tento manter as distâncias, não podemos fazer mais", afirma.
Umas paragens depois, entra uma mãe com três crianças - a cada cinco minutos borrifa as mãos dos pequenos com álcool -, alguns idosos e um grupo de homens, já conhecidos e identificados como toxicodependentes por quem circula no autocarro. Sentam-se ao fundo. "Estás a olhar? Bem podes olhar... Vais expulsar-me?", diz um deles, em tom ameaçador. "Isto é pelo que têm passado os motoristas. Até podiam expulsar ou tomar medidas, mas fazem estas rotas todos os dias e por isso há medo de represálias", refere Paulo Carvalho, que, atentamente, mantém a ordem no autocarro.
Risco
A elevada afluência de idosos têm sido outra das questões problemáticas nos transportes públicos. De acordo com Eduardo Ribeiro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte, 60% dos passageiros "podiam ficar em casa". "São pessoas da terceira idade".
Carregar os passes
A Metro do Porto apelou ao "carregamento da assinatura mensal de abril dos clientes para ajudar a manter o serviço operacional, apesar de os validadores da rede estarem desligados devido à Covid-19".