O vice-presidente da Câmara de Vila do Conde, Pedro Gomes, mostrou o dedo do meio, num gesto considerado ofensivo, ao socialista João Fonseca, durante a sessão da Assembleia Municipal. O deputado queixou-se à mesa. Pedro Gomes abanou a cabeça em sinal de negação e não respondeu.
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Com as sessões a serem transmitidas online, as imagens da situação não tardaram a ser divulgadas. O deputado do PS diz que o vice-presidente "não é digno do cargo que ocupa" e lembra o ministro da Economia, Manuel Pinho, que, por causa dos "corninhos" que fez ao comunista Bernardino Soares na Assembleia da República, acabou demitido por José Sócrates.
Em discussão estavam as transferências de verbas para as freguesias em 2021. João Fonseca criticou o dinheiro gasto com o Natal, num ano difícil, em que a Câmara liderada por Elisa Ferraz não cumpriu a promessa de chegar ao fim do mandato com o IMI na taxa mínima.
"No ano em que estamos, quase 400 mil euros gastos em Natal são sua opção e é avaliação dos vilacondenses perceberem se isso é ou não prioritário. 20 mil euros pagos a uma empresa de design gráfico para fornecer chocolates é gastar mal o dinheiro!", frisou.
Elisa Ferraz fez questão de esclarecer os "chocolates": "Fazem parte de uma lembrança que a Câmara vai oferecer a todas as famílias da nossa habitação social. Costumávamos fazer uma festa de Natal. Este ano, não foi possível. Terão, todos, esta pequena lembrança: uma caixa com um bolo-rei e uma embalagem de chocolates".
Pedro Gomes fez o gesto. João Fonseca denunciou a situação: "O sr. vice-presidente acabou de me mostrar o dedo do meio em plena sessão. Há coisas que têm que ter limites", afirmou, lembrando a demissão de Pinho e convidando Pedro Gomes a retratar-se. O vice-presidente abanou a cabeça e manteve o silêncio. O presidente da mesa da assembleia, Lúcio Ferreira, garante que "não se apercebeu de nada".
Para João Fonseca, o gesto já era "triste", "não o assumir diz ainda mais sobre Pedro Gomes".
Entretanto, a concelhia do PS já veio condenar o "gesto indigno, obsceno e inadmissível" e exigir que a presidente da Câmara se pronuncie.
"Como diz o povo: diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. (...) Tratando-se de um ato inqualificável, o que é que a presidente da câmara pensa fazer? Vai condenar a atitude do seu homem de confiança e decidir sobre inevitáveis consequências ou vai simplesmente concordar com a suprema indignidade de um gesto obsceno ocorrido em plena assembleia municipal?", questiona o líder do PS de Vila do Conde, Vítor Costa. "Por menos, já um ministro foi demitido", lê-se, ainda, no comunicado.
Polémicas à parte, o Orçamento para 2021 foi aprovado com a abstenção do PS e os votos contra do PSD. São 63 milhões, 21 dos quais para investimento. "Mais obra, mais dinheiro para as freguesias e para associações, a redução do IMI e da dívida", diz Elisa Ferraz. "Obras a derrapar nos prazos e nos custos - a EB1 dos Correios, as piscinas, o Palacete Melo -, projetos que não saem do papel - o Masterplan, que previa obras nas vias estruturantes das várias freguesias", diz o PS, que, ainda assim e porque "antes um mau orçamento que nenhum", decidiu abster-se.
O "IMI não chega ao mínimo", conforme prometido, com uma pandemia em curso, não há "nenhum novo apoio de âmbito social e económico", "as necessidades do concelho continuam por suprir, mantêm-se as assimetrias". Nuno Maia diz que assim, o PSD não poderia votar a favor.