Vila Real está a crescer. Tem atraído novas empresas e instituições. Há mais gente a viver ou só a trabalhar lá. A cidade mexe. Mas não há bela sem senão. Há mais trânsito e arranjar um lugar de estacionamento é cada vez mais difícil. Sobretudo no centro. "São dores de crescimento", metaforiza Rui Santos, presidente da Câmara.
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Alexandra Rico e Jorge Moreira, ambos com 25 anos, estão a viver há um mês na cidade. Vieram da Lixa, concelho de Felgueiras. Ela é enfermeira no novo Hospital da Luz. Ele arranjou emprego no Fitness Club Energy e estuda Ciências do Desporto na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
A enfermeira Daniela Fernandes, 22 anos, e a fisioterapeuta Marisa Milão, 36, só trabalham em Vila Real. Na Clínica Médica dos Descobrimentos. Chegam de manhã e partem ao fim do dia. A primeira vive em Macedo de Cavaleiros e a segunda em Alijó.
Uns e outros dizem-se agradados com a cidade, mas também concordam nos aspetos negativos. "É bonita e tranquila, mas não imaginávamos que tivesse tanta confusão no trânsito", refere o casal de namorados da Lixa, enquanto as outras duas profissionais de saúde lamentam ter de "chegar mais cedo para evitar a hora de ponta da manhã".
É que não só podem chegar atrasadas ao trabalho, na zona histórica da cidade, como ter "imensas dificuldades para estacionar o carro". Marisa já foi multada por arriscar aparcar a viatura em sítios não autorizados e até já teve de a deixar "a um quilómetro de distância".
Falta de planeamento
A expansão da cidade nas últimas décadas fez-se "sem um planeamento cuidado e prospetivo", enfatiza Rui Santos. "Há uma malha urbana consolidada com ruas estreitas e na periferia não foram salvaguardados corredores para criar vias de escoamento do trânsito", acrescenta.
Por isso, a ligação entre um lado e outro do rio Corgo, faz-se, e continuará a fazer-se, por apenas três vias: Estrada Nacional 15 (Timpeira), Avenida da Europa e ponte metálica. Qualquer outra travessia está, por enquanto, fora de hipótese.
Há, no entanto, a possibilidade de quem vai, por exemplo, para a UTAD e para a zona industrial, poder usar o IP4 e a A24. Percorrem mais quilómetros, mas não apanham filas. Só que para que seja apetecível, a Câmara de Vila Real ainda vai ter de negociar com a concessionária da autoestrada a retirada ou deslocalização de um pórtico de portagens.
Outro projeto estruturante, mas que exigiria um investimento de 50 milhões de euros, seria "um túnel entre as antigas boxes e a Rotunda da República", à saída para o IP4.
Geração do automóvel
Os transportes públicos urbanos continuam a ser usados maioritariamente por estudantes da UTAD. José Gouveia, técnico de movimento da empresa URB Vila Real, admite que nas horas de ponta - entre as 7.30 e as 9 horas, e as 17 e as 19 horas - é preciso reforçar o número de autocarros. A Linha 4, que é a que passa pela universidade, chega a ter "quatro viaturas no mesmo horário para dar resposta à procura". Nos restantes horários do dia é bem mais pequena.
"Ainda vivemos muito na geração do automóvel. Se Vila Real quiser ser uma cidade cosmopolita, multicultural, tem de mudar os seus hábitos", clama o reitor da UTAD, António Fontainhas Fernandes, exemplificando com as "alterações comportamentais no trânsito e nas formas de mobilidade". "A bicicleta, o carro elétrico e o transporte público" são para o reitor alternativas a ter em conta.
O autarca Rui Santos corrobora, reivindicando também "mais civismo" aos automobilistas. Bem sabe que lhe cabe a ele e ao seu executivo municipal encontrar as alternativas possíveis, procurando repetir o sucesso que tem alcançado com as políticas fiscais e os incentivos à economia e ao emprego, bem com a notoriedade alcançada com as corridas de automóveis, e que têm contribuído para o desenvolvimento do concelho.
Falta de alojamento
O progresso também trouxe maior pressão no setor imobiliário. Alexandra e Jorge andaram um mês à procura de casa. Encontraram, finalmente, um T0 na Rua Direita. "Alguém desistiu e nós agarrámos logo a oportunidade".
Pior estão Alice e Rita, alunas de Genética e Biotecnologia na UTAD, ambas de Fafe, que estão a viver há quase um mês numa residencial. "Ainda não conseguimos arranjar uma casa para viver. Esperamos ter mais sorte em novembro", salientam, fartas da situação de instabilidade, que não lhes permite "tranquilidade para estudar ou fazer refeições em casa".
Sentido único da ponte metálica criticado
A Câmara de Vila Real está a testar a circulação na ponte metálica num único sentido (da Avenida 1.º de Maio para a antiga estação ferroviária). A decisão tem sido fortemente criticada. Nos comentários publicados nas redes sociais até já se brinca com a situação. Diz-se que a eliminação de um sentido de trânsito na ponte é a culpada de todos os males da cidade. A decisão foi sustentada em contagens de trânsito, no Plano de Mobilidade Sustentável elaborado pela Douro Alliance e no estudo de tráfego elaborado pela Universidade de Coimbra. O autarca, Rui Santos, salienta que o modelo ainda é "experimental", mas os dois meses que já leva implementado permitiram perceber que "funciona, sobretudo de manhã". "Deixou de haver engarrafamento na Avenida 1.º de Maio e melhorou muito a acessibilidade". No entanto, ao final do dia "trouxe mais pressão". O resultado das avaliações técnicas poderá ditar que "funcione num sentido de manhã e em dois à tarde". No entanto, "todas as hipóteses estão ainda em aberto".
Mais empresas
Nos últimos anos, o concelho atraiu a Ibersol, JOM, Decathlon, Aldi, Critical Software, entre outras. Os novos hospitais da Luz e da Trofa vão empregar, no seu conjunto, cerca de 500 pessoas, a Kathrein Automotive aumentou para 450 e o call center da Altice emprega 130 com o objetivo de chegar às 300.
Novos investimentos
O autarca Rui Santos está convencido de que "vão ser criados dois novos hotéis na cidade". A multinacional Aldi abriu há dias um supermercado. O Continente vai alargar a sua área e criar mais 100 postos de trabalho. O Lidl também vai aumentar a sua área.
300 bicicletas
O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, entregou ao reitor da UTAD, simbolicamente, as primeiras 10 das 300 bicicletas - 270 elétricas - no âmbito do projeto U-Bike Portugal. Destinam-se a estudantes, docentes, investigadores e trabalhadores da academia.
Emissão de gases
Projeto U-Bike visa a redução do consumo de energia, das emissões de gases com efeito de estufa e de poluentes atmosféricos, bem como a diminuição do congestionamento, através da atração da sua população universitária para modos mais sustentáveis.
Ecocampus
O reitor da UTAD, Fontainhas Fernandes, quer que o campus universitário, com oito mil pessoas, seja um exemplo de sustentabilidade. No futuro terá uma ciclovia a ligá-lo ao centro da cidade, para promover a utilização de meios de transporte suaves e amigos do ambiente.