Participantes transmontanos na marcha LGBT assumem que já tiveram mais problemas na capital do que na sua terra.
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Miriam Cabo preparava-se para entrar num restaurante de Lisboa para jantar com a namorada quando foram barradas. "Fecharam-nos a porta na cara só por sermos lésbicas". Em Vila Real "isso nunca aconteceu", embora reconheça que "há sempre olhares". Rui Martins estava com o namorado numa estação de metro da capital. "Nem estávamos de mão dada nem nada. Mas um skinhead topou-nos e começou a perseguir-nos. Tivemos medo. Só quando fomos ter com a Polícia é que ele se afastou". Em Vila Real, nunca sentiu qualquer reação homofóbica extrema.
Miriam, de 28 anos, é lésbica assumida desde os 16, altura em que deixou de andar em "negação". Rui é bissexual e tem 29 anos. Desde os 10 que tinha noção da sua orientação, mas só há uma semana contou ao pai, em Bragança, terra de origem, embora ele até já o soubesse. "Apesar de termos opiniões diferentes sobre esta matéria, reagiu muito bem, pois é mente muito aberta".
Os dois jovens vivem na cidade vila-realense e participaram, sábado, na marcha pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros (LGBT). Não chegaram a uma centena, sendo que só 20% eram locais, mas deu para passar a mensagem. Ambos reconhecem que "em Lisboa há mais homofobia que em Vila Real".
A vantagem é que como é uma cidade grande ninguém os conhece. "Na nossa terra, se andamos de mão dada na rua há sempre a possibilidade de encontrarmos alguém conhecido". Na verdade, na cidade duriense ainda há muito caminho a trilhar para que a comunidade LGBT saia do armário. "É ainda um meio muito fechado. Até há heterossexuais que gostavam de vir à nossa marcha, mas têm medo de ser confundidos só por participarem", nota Miriam.
Diogo Santos é dos poucos heterossexuais que foram apoiar a causa LGBT e "combater os estereótipos sobre quem tem outras orientações na vida". Uma das suas preocupações é que "ainda haja quem não se assuma por medo de perder o emprego".
Também heterossexual é Catarina Peniche, a ativista do coletivo Catarse, que existe em Vila Real há um ano, juntando 16 elementos e que organizou a marcha de ontem. Embora com menos participantes que na edição de 2017, e até que na marcha realizada em Bragança há uma semana, Catarina sublinhou que o que importa é continuar a passar a mensagem de que "o ser LGBT não é esquisito, que não é um defeito ou uma escolha". Pelo contrário, "é uma orientação e deve-se deixar que as pessoas sejam felizes à sua maneira".