Nove pessoas iniciaram curso de um ano que as vai preparar para continuar arte que é Património Mundial.
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Não há milagres. Evitar que o processo de fabrico da olaria negra de Bisalhães se perca passa por novos artesãos. Os antigos são cada vez menos, as forças de cada um também, e se não houver continuadores, a arte que é Património Mundial da UNESCO há seis anos pode passar à história. A esperança recai, em parte, nas nove pessoas que durante um ano vão aprender o ofício.
Aquando da candidatura à UNESCO, a Câmara de Vila Real comprometeu-se a desenvolver uma estratégia para salvaguardar da extinção a arte do barro negro que caracteriza aquela aldeia do concelho. Tem desenvolvido iniciativas para a promover nacional e internacionalmente, instalou sinalização para guiar os turistas até à povoação, e agora, em parceria com o Centro de Emprego e Formação Profissional e com a Junta de Freguesia de Mondrões, arrancou com um curso que visa qualificar novos oleiros.
O presidente do Município, Rui Santos, reconhece que "o problema da falta de oleiros vem de há muitos anos". Apesar de haver em Bisalhães "mais duas ou três pessoas que se juntam aos cinco oleiros, já com idade muito avançada", salienta que "era importante dar um novo impulso a pessoas que soubessem trabalhar e desenvolver todo o processo de cozedura do barro negro de Bisalhães".
Se pelo menos alguns dos nove conseguirem vir a fazer da arte profissão, ou complemento de outra, para Rui Santos já significará que se está a "avançar no sentido de salvar a arte da olaria em Bisalhães e no concelho de Vila Real".
mestres para ensinar
Para ensinar os novos, nada melhor que recorrer aos velhos. Querubim Rocha, de 82 anos, e Cesário Martins, de 87, dominam a arte como ninguém. O primeiro sempre fez vida dela e é na sua oficina recheada de peças para todos os gostos que vai partilhar o seu conhecimento com os formandos. "Acho que vai ser bom para ver se isto não morre. Se eles tiverem vontade, aprendem", diz o artesão que tem peças espalhadas "por todo o Mundo".
O segundo foi GNR durante parte da vida, mas quando se reformou continuou a trabalhar no barro. Agora vai ensinar a fase da cozedura, que é a mais sensível. O forno é criado na terra ao ar livre. Por baixo das peças são queimadas giestas, caruma, carqueja e rama verde de pinheiro, entre outra vegetação da região. No final são abafadas com terra e é o fumo que fica no forno, e que convém que não escape, que vai dar cor preta ao barro.
A Junta de Mondrões também está "fortemente empenhada em salvar a arte". Por isso, salienta o presidente Félix Touças, "estará disponível para libertar espaços nos seus terrenos para que as pessoas instalem lá os seus ateliês".