Viseu assinala Mês da Doença de Alzheimer: um "tsunami" familiar que é possível evitar
Setembro, "Mês Mundial da Doença de Alzheimer", tem particular destaque em Viseu, que dedica uma série de atividades à "doença silenciosa" que entra como "um tsunami na vida das famílias".
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Com várias iniciativas que se espalharam nas últimas três semanas, este sábado, o "Mês Mundial da Doença de Alzheimer" é assinalada com duas atividades: o "Café Memória", na Escolas Superior de Educação, às 10 horas da manhã, e a Conferência "À Conversa Sobre Saúde Mental", em Castro Daire, 15 horas.
O "Café Memória" é uma das várias atividades regulares do Centro de Apoio a Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, criado em 2014 no seio das Obras Sociais de Viseu, Instituição Particular de Solidariedade Social que nasceu no seio camarário em 1963. No último sábado de cada mês, doentes de Alzheimer e cuidadores juntam-se para um café (ou chá) e bolo num encontro sem finalidade terapêutica, mas acompanhado por especialistas e com atividades para pacientes e familiares.
O mês Mundial da Doença de Alzheimer, em Viseu, fecha com uma visita, segunda-feira, ao "Longevidade: Centro para a Qualidade de Vida", espaço inaugurado no início do dia 2 de setembro, no centro da cidade. "Quisemos que fosse o mais central possível, para as pessoas com demência e os cuidadores estarem perto da comunidade", explicou José Carreiras, coordenador do Centro de Apoio a Pessoas com Alzheimer e Outras Demências (CAPAOD).
"Não quisemos que fosse uma coisa escondida, longe da comunidade", diz José Carreiras, lembrando que o "estigma do Alzheimer" e de outras doenças mentais é muito forte: Segundo a "Alzheimer´s Disease Internacional", a organização internacional dedicada à consciencialização da doença, duas em cada três pessoas considera que há pouca ou nenhuma compreensão da demência. É frequente a vergonha de "ter um maluquinho" da família.
Aproximar doentes e cuidadores da comunidade
No "Longevidade", o objetivo é aproximar os doentes e os cuidadores da comunidade e de uma vida o mais "normal" possível. O espaço procura recriar o ambiente de casa, não há batas entre os profissionais no atendimento, num espaço confortável para os doentes e que atende a algumas especificidades desta enfermidade, que o jornalista Antonio Ortín definiu como "um tsunami" que entra na vida das famílias.
"Trabalhamos as atividades da vida diária, que é absolutamente fundamental", disse José Carreiras. Como fazer uma lista de compras, perceber o que precisam, e gerir um pequeno orçamento são algumas das capacidades incentivadas no espaço Longevidade. "Tudo o que as pessoas têm no nosso Centro podem ter em casa", explicou o coordenador do Centro de Apoio a Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, que acompanha entre 200 a 250 pessoas, desde domicílios ao atendimento, algumas mais regulares do que outras.
O Mês Mundial da Doença de Alzheimer, iniciativa que se desenvolve desde 2012 a nível global, é uma forma de assinalar a doença e alertar para mitos e estigmas. "Existe também muita desinformação", especialmente na Internet, com publicidade a chás, medicamentos e mezinhas que servem apenas para enganar. "Não há cura para a demência ainda. Não é possível curar o Alzheimer mas é possível cuidar melhor", acrescenta, Carreiras, centrando a conversa na função que está na génese da criação do Centro de Apoio a Pessoas com Alzheimer e Outras Demências, uma das várias valências da Obras Sociais de Viseu, entidade que, em Portugal, representa a "Alzheimer"s Disease International."
O centro trabalha para melhorar a qualidade de vida das pessoas com demência e dos cuidadores. "Temos sempre de pensar sempre nesta díade pessoa com demência e cuidador", explica José Carreiras. O centro fornece apoio psicossocial, social e jurídico, lutando por apoios psicossociais.
O Alzheimer pode ser retardado ou até evitado
Um dos projetos desenvolvidos é o "#ID Memória Futura", em parceria com a Intruso e com o apoio do BPI. Esta iniciativa, que recebeu, em 2024, o "Prémio BPI Seniores", atribuído pela Fundação BPI/La Caixa, visa a criação de um espaço de encontro onde se desenvolvem diversas atividades para melhorar a qualidade de vida das pessoas com demência e dos cuidadores. Durante este mês, num espaço disponibilizado pelo Fórum Viseu, parceiro da atividade, o centro convida à participação da comunidade na divulgação da doença e no combate a estigmas e mitos associados.
Segundo José Carreiras, cerca de 80% das pessoas acredita que a demência é normal no envelhecimento e entre os profissionais de saúde são cerca de 60%. "Isto é um problema, porque tardam em procurar um médico, em ser diagnosticadas", alerta o coordenador do CAPAOD, lembrando que o Alzheimer não é uma consequência do somatório de anos de vida. "Cerca de metade dos casos podem ser precavidos ou atrasados, porque há fatores de risco que são controláveis", revelou.
E os portugueses, como outros povos do sul da Europa, até têm na matriz histórica e cultural um agente retardador ou até inibidor do Alzheimer: a dieta mediterrânica, considerada a mais equilibrada e saudável, é um dos 15 fatores que ajuda a combater o aparecimento do Alzheimer. Entre os outros, destaque para o sedentarismo, a obesidade, o álcool em excesso, o tabaco, a pressão arterial elevada, a diabetes não controlada e a solidão e o isolamento. Viver em comunidade, com uma dieta saudável e uma vida regrada não só é bom para somar aniversários, como para se lembrar deles. E das pessoas com quem os celebramos.