O concelho de Viseu deixará de ter autocarros a circular, a partir de sábado, dia 1 de março, alertou a empresa Berrelhas, que assegura o serviço de transportes de passageiros no município. A empresa garante que foi "forçada" a tomar esta decisão, uma vez que a proposta da autarquia não é sustentável.
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Num aviso publicado na segunda-feira, a Empresa Berrelhas de Camionagem, Lda. esclarece que, a partir de 1 de março, "não assegurará a execução do serviço de transporte MUV (Mobilidade Urbana de Viseu)". "A empresa viu-se forçada a tomar esta decisão atenta, por um lado, à absoluta impossibilidade de manter a exploração do serviço de transporte altamente deficitário e, por outro lado, considerando a impossibilidade técnica e financeira da aplicação da solução alternativa apresentada pela Autoridade dos Transportes competente", informa a Berrelhas.
Há já alguns anos que o serviço deixou de dar "lucro", tendo o contrato entre a empresa e a autarquia cessado no ano passado. A solução encontrada, em outubro de 2024, para que a população não ficasse sem o serviço de transportes foi um ajuste direto, no valor de nove milhões de euros, para um período máximo de dois anos, até a autarquia lançar um concurso público para nova concessão.
No entanto, segundo a empresa, o que ficou acordado nessa altura, não foi exatamente o que foi apresentado no caderno de encargos, a 7 de fevereiro, após "muita insistência" por parte da Barrelhas. "Da análise efetuada resulta ao caderno de encargos resulta a obrigação de realização por parte desta Empresa de investimento superior a 500 mil euros, no âmbito de contrato com duração nunca superior a dois anos", esclarece a Berrelhas num comunicado enviado, esta terça-feira, às redações.
Investimento inicial
Ao que o JN apurou, para que a empresa preste o serviço, que até aqui sempre fez, terá de renovar a frota, fazer alterações às paragens atuais e implementar um sistema de apoio à exploração, que permite fazer a georreferenciação de veículos, o que resultaria num investimento inicial de 500 mil euros. Uma vez que o período do ajuste direto é temporário, nada garante que à empresa que esse investimento venha a ser coberto, pois não sabe se vai estar a prestar o serviço durante um mês, seis ou os 24 meses. Além disso, o valor do ajuste direto (nove milhões de euros) só fica completo no fim dos dois anos.
"Contrariamente ao definido, o convite dirigido a esta Empresa determinaria a obrigação de manutenção da execução do serviço de transporte, por período de tempo não determinável, com a consequente manutenção da assunção do prejuízo mensal daí resultante", adianta a empresa na nota.
Só entre o dia 1 de janeiro de 2024 e o dia 31 de janeiro de 2025, a empresa afirma ter suportado um prejuízo de quase dois milhões de euros (1.897.000,00), tendo a decisão, agora tomada, não prejudicar mais a sustentabilidade económico-financeira.
Em comunicado, a Barrelhas adianta que solicitou à Câmara de Viseu a identificação de um novo operador, de modo a acautelar os postos de trabalho dos trabalhadores da atual concessão. O JN questinou a autarquia sobre a situação mas ainda não obteve resposta.