Região vai produzir este ano menos vinho do Porto em relação à vindima de 2023, o que se traduz em vários milhões a menos para o bolso de quem produz uvas.
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Várias dezenas de viticultores do Douro fizeram, esta quinta-feira de manhã, em Peso da Régua, uma marcha lenta de protesto contra o corte de benefício para a vindima de 2024. A redução pode acarretar uma quebra de receitas até 19 milhões de euros face à campanha anterior.
O benefício é o quantitativo de mosto que pode ser destinado à produção de vinho do Porto em cada vindima. A decisão vai sair da reunião do Conselho Interprofissional dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), que está a acontecer no Museu do Douro, na cidade reguense.
Os agricultores foram mobilizados a partir de Ervedosa do Douro, no concelho de São João da Pesqueira, já que é a freguesia com a maior produção de vinho do Porto em toda a região demarcada.
O presidente da Junta de Freguesia de Ervedosa do Douro, Manuel Fernandes, explicou, esta manhã, que os agricultores “estão preocupados com a situação”, que “está cada vez pior”. “Para Lisboa e para os grandes centros urbanos há tudo, para o Douro não há nada”, criticou, lembrando que “já há fome na região”.
Confrontados com a quebra de receita, os viticultores veem-se a braços com custos de produção cada vez mais elevados. “Esta tudo constantemente a aumentar e nós não saímos da cepa torta”, salienta o autarca, que defende que “um produto de excelência tem de ser pago pelo valor justo”. Isso significa que “a pipa (550 litros cada) não pode continuar a ser paga ao preço de há 30 anos [cerca de mil euros por cada uma]”.
O quantitativo de mosto autorizado a beneficiar com aguardente para produzir vinho do Porto já tinha descido das 116 mil pipas, em 2022, para as 104 mil, em 2023. Uma quebra de 12 mil pipas que representou menos cerca de 12 milhões de euros na região.
O quantitativo deste ano vai ser anunciado hoje. As duas profissões, produção e comércio, estão separadas por muitos milhares de pipas. À partida para as negociações, a produção propôs 99 mil pipas de mosto. É um decréscimo de cinco mil em relação ao ano passado, mas esta profissão não ignora que as vendas de vinho do Porto têm vindo a descer desde 2000 e produzir a mais e não o vender também comporta riscos.
Por sua vez, o comércio, a braços com a maior incerteza do negócio e com stocks elevados, lançou para a mesa uma proposta com 81 mil pipas. Ou seja, menos 23 mil do que em 2023 e menos 35 mil relativamente a 2022.
Na reunião do Interprofissional da semana passada partiu-se pedra, o comércio admitiu subir a proposta até às 85 mil, mas dificilmente estará disposto a ir além desse quantitativo. A produção concede que será quase impossível um acordo à volta das 99 mil, mas vai esforçar-se para conseguir, no mínimo, 92 mil pipas.
Devido ao empobrecimento da região, está a ser preparada uma grande manifestação de viticultores para 07 de agosto, em Peso da Régua.