Casal com duas filhas viveu 14 meses sem luz e sem água. Em janeiro, foram acolhidos na Batalha.
Corpo do artigo
Tatiana Sousa, 24 anos, vai entrar em greve de fome, sexta-feira, à porta do Palácio de Belém, como forma de protesto por não ter recebido apoio para reconstruir a casa onde morava em Vieira de Leiria, parcialmente destruída no incêndio de 15 de outubro de 2017. Desde janeiro, a jovem está a residir na Batalha, com o companheiro e com as duas filhas pequenas, depois de mais de um ano a sobreviver sem luz e sem água canalizada.
"Usaram a imagem da Tatiana e das meninas para a campanha "Portugal chama. Por si. Por todos". Para esse fim, fomos considerados vítimas, mas para nos pagarem os prejuízos já não somos vítimas", lamenta o companheiro, Artur da Mata, 50 anos. Depois de 14 meses a tomar banho de mangueira e a viver com apenas duas horas de luz por noite, à custa de um gerador emprestado, com que aqueciam a água do banho das filhas e confecionavam as refeições, o casal foi acolhido por uma família da Batalha.
"Têm todos andado no jogo do empurra e ninguém resolve nada", afirma Tatiana Sousa. A greve de fome foi o último recurso que encontraram para chamar a atenção para um problema que se arrasta desde 2017. "Queria ver se a situação era resolvida o mais rapidamente possível", justifica a jovem. "Temos vivido tempos muito difíceis", assegura. Primeiro, porque não tinham condições na casa onde habitavam em Vieira de Leiria e, agora, porque o dinheiro que Artur recebe de uma imobiliária em França, onde trabalha a meio tempo, não é suficiente para pagar todas as despesas.
Consciente de que a habitação de Vieira de Leiria não está legal, apesar de garantir desconhecer que o terreno se situava em Reserva Ecológica Nacional quando o comprou, Artur entende que deve ser indemnizado por o incêndio ter atingido os muros que estavam licenciados e por ter destruído os painéis solares e um carro novo, sem seguro, que diz ter sido transportado de camião desde França.
Entendimento diferente
A Câmara da Marinha Grande tem, contudo, um entendimento diferente, que foi comunicado ao casal por escrito.
"A moradia afetada pelo incêndio e propriedade da requerente encontra-se numa situação ilegal, não sendo passível de legalização, motivo pelo qual não reúne os requisitos para apresentação de candidatura ao PARHP [Programa de Apoio à Reconstrução]".