No IPO do Porto cerca de 500 pessoas dedicavam as suas vidas a ajudar os outros. Atualmente, podem entrar apenas 15 por dia.
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"Estamos cá, não para nos valorizarem, mas para ajudarmos". O desabafo altruísta é de Arlete Costa, 68 anos, que desde que se reformou de gerente bancária, se dedica a acolher os doentes que diariamente chegam ao IPO do Porto. Nesta instituição, os voluntários já foram cerca de 500, mas as restrições impostas pela pandemia só permitem que agora sejam 75 (15 por dia). E alturas houve, entre março e junho, que estiveram todos impedidos de ajudar.
"Era uma dor de alma ver os doentes aqui a chegar, desnorteados e sem qualquer orientação", desabafou ao JN Monick Leal, 40 anos, psicóloga no IPO e coordenadora do apoio ao doente, que abrange não apenas o voluntariado mas também o apoio social.
Daí que, mal os voluntários puderam regressar, em junho, fizeram-no sem hesitar. Mesmo tendo de se adaptar a novas regras e a terem de se desdobrar. "Numa primeira fase, apenas 35 (sete por dia) e, só depois, ficaram os 75 (15 por dia)", referiu Monick Leal. Agora, os voluntários também não podem ter mais de 69 anos nem ter pessoas de risco em casa.
Já as regras de higienização obrigam a que cada voluntário à chegada dispa a sua roupa e vista um uniforme, que é deixado para lavar quando se vai embora. Também o calçado tem de ser trocado.
E se antigamente os turnos dos voluntários aconteciam entre as 8 e as 21 horas, "agora são apenas das 8 às 11 horas". "Mas nunca saem daqui a essa hora, não têm coragem!", observou a coordenadora do apoio ao doente. "Porque às 14 horas é sempre quando há muito movimento e não conseguem ver as pessoas perdidas e acabam por ficar até às 15 horas, muitos sem almoçar", explica.
Kit fechado por doente
Atualmente, dos 11 serviços do IPO, os voluntários estão presentes apenas na receção, tida como "acolhimento", nas análises, na pediatria e nos espaços "café com leite". Mas também aqui houve "ajustes". "Já não há os carrinhos pelos corredores com as bebidas quentes e passou-se a distribuir um kit fechado por doente, com dois pacotes de bolachas, um sumo, ou um pacote de leite simples ou de leite com café", descreveu Monick.
Mas para a coordenadora, o local onde se sentirá mais a falta dos voluntários "é na pediatra". "Eram mais de 100 voluntários. Agora, é um por dia, cinco por semana".
Susana Valério, 47 anos, contou ao JN que "infelizmente" estava pela primeira vez no IPO e "só queria saber onde podia levantar uma declaração de presença". Gaspar Ferreira, ao lado uma máquina de senhas, retirou-lhe o bilhete e entregou-lhe com uma graçola. Susana confessou que "aquele bom ambiente é fundamental para a autoestima".
O mesmo disse Fátima Correia, 43 anos, de Gaia: "Os voluntários são essenciais, porque a pessoa quando chega aqui sente-se perdida e uma palavra amiga cai bem".
Para este sábado, Dia Internacional do Voluntariado, estava previsto os voluntários do Núcleo Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, receberem as suas insígnias dos anos dedicados à causa, mas também a cerimónia foi adiada, sendo o dia assinalado nas redes socais.