Ícone incontornável da moda, Anna Wintour deixa o posto de diretora da edição americana da revista "Vogue", que ocupava desde 1988. A decisão integra uma reorganização global da Condé Nast e abre caminho para uma nova liderança editorial nos Estados Unidos.
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Num anúncio que marca o fim de uma era no jornalismo de moda, Anna Wintour, de 75 anos, comunicou que deixará o cargo de diretora editorial da “Vogue” norte-americana após 37 anos à frente da publicação.
A notícia foi dada numa reunião com a equipa esta quinta-feira, e confirmada oficialmente pela editora Condé Nast. Apesar da saída da chefia da versão americana da revista, Wintour continuará a exercer funções de topo na editora: manter-se-á como diretora de conteúdo da Condé Nast e diretora editorial global da “Vogue”.
A mudança surge no contexto de uma reestruturação editorial global iniciada há quatro anos, quando a Condé Nast integrou as suas equipas editoriais em diferentes mercados sob uma estrutura unificada. Com esta reformulação, a “Vogue” EUA passará a ter, como as demais edições internacionais, uma chefe de conteúdo editorial, que responderá diretamente à direção global — cargo que continua sob responsabilidade de Wintour.
Assim, a veterana editora poderá dedicar-se mais igualmente a todas as publicações da editora em mercados como o Reino Unido, França, Japão, Índia, China e Médio Oriente.
Um legado transformador na moda e na cultura
Anna Wintour entrou para a “Vogue” americana em 1988 e rapidamente imprimiu a sua visão disruptiva. A sua primeira capa, em novembro daquele ano, foi protagonizada pela modelo Michaela Bercu, que usava calças de ganga e um suéter de alta-costura — uma combinação impensável na altura, que redefiniu os limites da moda editorial.
Nos anos seguintes, aproximou a “Vogue” das celebridades e do mundo pop, rompendo tradições e alargando a influência da revista muito para lá das passerelles.
Durante a sua liderança, a publicação foi palco de momentos icónicos: da capa com Oprah Winfrey ao lado de Naomi Campbell e Christy Turlington, à escolha de Michelle Obama como rosto da edição de março de 2009, passando por capas memoráveis com figuras como Lady Gaga, Zendaya, Rihanna e até o controverso casal Kim Kardashian e Kanye West.
Wintour não teve receio de assumir riscos editoriais, muitas vezes rompendo com o politicamente correto ou com as expetativas do setor.
Muito além da revista
Fora das páginas da revista, Wintour construiu uma presença incontornável na indústria e na cultura popular. Desde 1995, é a força organizadora por trás do Met Gala, evento beneficente do Metropolitan Museum of Art que se tornou um dos acontecimentos mais mediáticos do ano. É também fundadora e principal promotora do “CFDA/Vogue Fashion Fund”, criado para apoiar jovens designers emergentes.
Visualmente reconhecível pelos seus óculos escuros e pelo corte de cabelo rigorosamente mantido, Wintour tornou-se uma figura de culto — retratada no cinema, satirizada na televisão e biografada em diversas obras, como “Anna”, de Amy Odell, publicada em 2022.
Um novo capítulo para a "Vogue"
A saída de Wintour da edição americana da “Vogue” ocorre num momento de mudanças internas na Condé Nast, que incluem a nomeação de novos diretores criativos e a saída de altos responsáveis como Susan Cappa, ex-chefe de vendas para moda e luxo.
Ainda não se sabe quem será nomeado para liderar a nova fase da “Vogue” nos Estados Unidos, mas a expectativa é elevada para ver quem assumirá o que é, para muitos, o cargo mais prestigiante do jornalismo de moda.
Apesar de deixar o seu posto histórico, Anna Wintour permanece como guardiã da visão editorial global da “Vogue” e da Condé Nast. O seu legado, no entanto, continuará a marcar profundamente o futuro da moda e do jornalismo.