David Catalán revisita os Caretos e veste a tradição com irreverência no Portugal Fashion
O designer espanhol radicado no Porto apresentou a coleção outono/inverno 2025 na Casa da Arquitectura, em Matosinhos. Inspirado nas figuras tradicionais transmontanas, cruzou alfaiataria clássica com elementos vibrantes e texturas inesperadas.
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Depois de um primeiro dia dedicado à experiência sensorial no Douro, o Portugal Fashion voltou a centrar-se na moda, dando especial atenção aos nomes mais jovens da criação. A programação desta quarta-feira teve como ponto alto o desfile de David Catalán, que levou à Casa da Arquitectura uma coleção inspirada nas figuras folclóricas dos Caretos de Podence— declarados Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO e reinterpretadas com irreverência e um olhar contemporâneo.
A coleção outono/inverno 2025 apresentada pelo designer — que começou no Bloom e hoje marca presença nas semanas de moda internacionais — deveria ter subido à passarela há meses, caso o Portugal Fashion não tivesse parado.
A semana passada, David esteve em Milão com a coleção primavera/verão 2026, intitulada “Problems”, como o JN testemunhou, e marcou presença também no showroom do Portugal Fashion em Paris. A opção de apresentar a linha de inverno em solo nacional deveu-se, segundo explicou, à disponibilidade das peças e à estratégia imposta pela nova estrutura do evento.
Com o Portugal Fashion a realizar apenas uma edição anual em Portugal, ele considera natural a coexistência de duas coleções em simultâneo — uma em desfile, outra em showroom — solução que, na sua visão, permite otimizar o trabalho e manter o ritmo criativo. Desta vez, a escolha recaiu sobre as propostas para a próxima estação fria, por ser a mais completa em termos de produção.
Intitulada “Careto”, a nova proposta funde referências da cultura popular portuguesa com elementos de streetwear e alfaiataria. As silhuetas são marcadas por volumes, pompons e borlas que evocam os trajes rituais, enquanto as cores — entre o azul, o rosa-claro e o vermelho — surgem organizadas em blocos que criam contraste e impacto. Materiais como ganga, malha e algodão estruturam um guarda-roupa simultaneamente festivo e urbano.
A noite seguiu com os jovens talentos da plataforma Bloom. Veehana e Aireiv para a Lo Siento estrearam-se em passarela na antiga fábrica Vasco da Gama, também em Matosinhos, levando ao público as propostas vencedoras do concurso que promove novos criadores. Ao final da tarde, a Escola Superior de Artes e Design somou ao evento o tom académico e experimental do seu projeto.
O Portugal Fashion continua esta quinta-feira em Matosinhos, rumando depois ao Porto, com passagem pelo showroom da marca Ernest W. Baker a terminar o dia, antes de prosseguir sexta e sábado no Museu do Carro Eléctrico, junto ao rio Douro.