A lutar contra um cancro há cerca de uma década, a cantora Françoise Hardy pede legalização da eutanásia em França. O ator Alain Delon quer morrer por suicídio assistido na Suíça. Outros famosos optaram por fins de vida idênticos.
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A cantora e compositora Françoise escreveu ao presidente francês, Emmanuel Macron, a pedir, de novo, a legalização da eutanásia em França. A lutar contra um cancro há mais de uma década, a artista pede que permitam que os doentes “parem com o seu sofrimento quando sabem que já não há alívio possível”.
Esta não é a primeira vez que Hardy, 80 anos, reclama o direito à eutanásia. Em 2021, numa entrevista à revista “Femme Actuelle”, assumiu o “sofrimento físico terrível” provocado pelos muitos tratamentos, defendendo que a morfina já não era opção. Assim, “só pode ser administrada em doses massivas para que eu morra, e não em doses menores para que sofra menos”, confessou.
Seis anos antes, quando foi hospitalizada e ficou em coma induzido, já tinha defendido a morte medicamente assistida. Agora, no novo apelo, Hardy recorda o que experienciou com a mãe, que sofria de Charcot-Marie-Tooth, e que, “graças a dois médicos corajosos e compreensivos, não teve que ver o fim de uma doença incurável”.
Desde 2022, Alain Delon é outro famoso que tem dado que falar a propósito do final de vida. Nessa altura, o ator franco-suíço revelou ter escolhido morrer por suicídio assistido na Suíça, onde é permitido. Já a eutanásia é ilegal. Para ele, “a partir de uma certa idade, uma pessoa tem o direito de sair tranquilamente”. Isto depois de, em 2019, ter sofrido um AVC que o terá deixado debilitado, acendendo o debate sobre o assunto.
Perícias médicas
Há uma semana, aos 88 anos, o antigo galã do cinema foi submetido a perícias médicas, à margem de desentendimentos entre os filhos sobre o seu estado de saúde. Anthony — a quem foi entregue a organização da morte assistida — e Alain-Fabien acreditam que o pai está a ser manipulado pela irmã, Anouchka. O exame comprovou que “não está de forma alguma extinto” o discernimento de Delon.
No caso do ator, o que está em causa é a morte assistida, ou seja, será ele, com o auxílio de terceiros a ter o último gesto, ao ingeri uma cápsula letal. Já na eutanásia, é outra pessoa que cumpre a última etapa, a pedido do paciente, por norma com recurso a uma injeção fatal.
Em Portugal
Em Portugal, a lei que descriminaliza a eutanásia para maiores de 18 anos foi promulgada em maio de 2023. A regulamentação só acontecerá no próximo governo, a ser eleito em março , sabendo que “considera-se morte medicamente assistida não punível a que ocorre por decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento de grande intensidade, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença grave e incurável, quando praticada ou ajudada por profissionais de saúde”.
Outros famosos
No livro biográfico lançado, em outubro do ano passado, após a sua morte aos 75 anos, a cantora brasileira Rita Lee ponderou ser eutanasiada quando foi diagnosticada com cancro no pulmão em 2021.
Dois anos antes, a autora da biografia “Hero: David Bowie”, a jornalista Lesley-Ann Jones, também revelou que o cantor optou por um suicídio assistido. David Bowie, que tinha cancro, faleceu em janeiro de 2016 e, segundo o relato, recorreu à prescrição de uma dose letal de um medicamento, dois dias após lançar o seu último álbum, “Blackstar”.
Tetraplégico aos 25 anos, na sequência de um mergulho no mar, o escritor espanhol Ramón Sampedro lutou na justiça pelo direito de morrer com dignidade.
Morreu a 12 de janeiro de 1998, envenenado com cianeto de potássio, com a cumplicidade da amiga Ramona Maneiro, que foi detida, mas não foi julgada por falta de provas.
Só em março de 2018, o Parlamento espanhol aprovou, em definitivo, uma lei para regularizar a eutanásia e o suicídio assistido.