O apresentador diz, ao JN, que o seu objetivo na televisão está mais do que cumprido. Agora, gostaria de ter tempo para escrever, ler, viajar e "desfrutar do tempo...com tempo".
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Nasceu em Luanda em 1973, mas três anos depois foi para Elvas. O Alentejo é, assim, um dos seus amores para sempre. Começou na comunicação em 1997, passando pelo SIC, SIC Caras e desde 2020 que está na TVI. Atualmente, apresenta com Cristina Ferreira o programa da manhã deste canal e o “Big Brother”, reality show de que fez parte, como concorrente, em 2002. Antes, já tinha apresentado com Teresa Guilherme e Manuel Luís Goucha. Já experimentou ficção, rádio e comentário. É pai de Leonor, de 19 anos. Em 2015, assumiu a sua homossexualidade. Depois de livros práticos, escreveu quatro romances, o último chama-se “O Rapaz”.
Quem é o Cláudio Ramos com 50 anos?
O mesmo de sempre, aquele que conhecem há 20 anos só que com a maturidade que a idade e a aprendizagem trazem e é natural que assim seja. Se me perguntar se eu gosto deste ‘Cláudio’? Eu digo que sim, que gosto dele e daquilo em que se foi transformando.
Apresentar o "Big Brother" e fazer a manhã com a Cristina Ferreira significa que atingiu o auge da sua carreira até agora?
Não acho nada isso, porque eu tenho a noção muito clara do quão efémera é esta profissão e mais ainda os projetos, na verdade, posso dizer que cheguei aos 50 anos com o objetivo profissional mais do que cumprido, era isto que eu queria e é isto que tenho profissionalmente. Não sei se é o auge, mas seguramente é um bom momento.
Quando fala com concorrentes do "Big Brother" sente saudades de quando concorreu? E vontade de voltar a concorrer?
Não! A única coisa que a passagem pelo programa me deu para a apresentação do BB é que talvez no mundo (não tenho a certeza), mas em Portugal, seguramente, eu sou o único apresentador que consegue entender por experiência o que ali se passa dentro, porque estive lá quase quatro meses.
Tem uma forma peculiar de comunicar. Particularmente, acho o Cláudio Ramos muito sincero (agora diz-se mais a palavra genuíno). Essa forma de ser já lhe trouxe problemas ou isso não lhe importa?
Ao longo de tantos anos a fazer televisão é natural que um ou outro apontamento menos simpático deva ter existido, tanto do meu lado como de outros lados, mas eu não sou de valorizar isso. O que eu acho francamente é que esta minha forma de ser é que me trouxe aqui. Nunca tentei ser outra coisa, nunca tentei imitar nenhum apresentador e nunca quis passar uma imagem que não fosse a minha.
“O rapaz” é alguém que conheceu. Mas também é, em algumas características, um bocado o Cláudio. Um romance pode ser o “lavar a alma”?
Qualquer romance que se escreva tem inspirações recolhidas de quem o escreve. Eu não sou o rapaz do livro, o rapaz são muitas pessoas que conheço e muitas histórias com quem me fui cruzando. Não é um livro biográfico nem pretende ser, tem, no entanto, uma verdade absoluta da escrita que, manifestamente, fui buscar a coisas que vi ou vivi, mas acontece comigo ou com outro autor qualquer. Ninguém escreve sem inspiração.
O que gostaria de fazer na vida que não teve tempo de fazer? E na televisão?
Continuar a escrever muito e com tempo, ler muito e com tempo, viajar muito e com tempo, desfrutar do meu tempo... com tempo.
Portugal é um país que pode caminhar para a homofobia? Falo não no seu caso, mas por outros que conheça.
No meu caso nunca senti nenhum tipo de preconceito, ou se aconteceu não lhe dei importância. Eu não me defino pela minha orientação sexual nem nunca permiti isso. Não sou bandeira de nada nem de coisa nenhuma, luto por um Portugal justo, por um mundo livre onde cada um de nós tenha espaço para ser quem é sem que lhe seja apontado o dedo se a liberdade não ofender, ferir ou tirar a liberdade do outro. Não sei para onde caminhamos, mas sei que o dever de cada um de nós é estar atento e perceber para onde quer caminhar... é isso o mais importante.
O que é que mais o irrita? E mais o comove?
O que mais me irrita é a falta de pontualidade, a ignorância voluntária. A generosidade é de tudo o que mais me comove.
O livro
“Quando me perguntam porque escrevo sobre o amor, é porque não acredito que exista força maior” – a frase faz parte da apresentação do quarto romance de Claúdio Ramos, "O Rapaz" posto à venda desta quinta-feira, numa edição da Alma dos Livros. Custa 19,45 euros.
