Novo livro revela esquema de vigilância sexual a clientes e funcionárias na Harrods durante a gestão de Mohamed Al Fayed. Mais de 500 vítimas e testemunhas denunciam décadas de abusos, câmaras ocultas e escutas ilegais nos bastidores da loja de luxo.
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Mohamed Al Fayed, o controverso empresário egípcio que liderou durante 25 anos a icónica loja Harrods, em Londres, é acusado de ter montado um sistema de vigilância sexual clandestina que se terá prolongado durante décadas. As revelações constam do novo livro "The Monster of Harrods", da jornalista Alison Kervin, com lançamento marcado para esta semana no Reino Unido.
A autora entrevistou mais de 60 pessoas — entre ex-funcionários, vítimas e testemunhas — que descrevem um cenário inquietante de vigilância encoberta, abuso de poder e sistemáticas violações da privacidade dentro dos luxuosos armazéns de Knightsbridge. De acordo com os testemunhos recolhidos, câmaras ocultas terão sido instaladas em provadores, casas de banho e áreas reservadas ao pessoal feminino, com o objetivo de satisfazer os impulsos voyeuristas do magnata.
Um antigo membro da equipa de segurança afirma, no livro, que “quem usasse um provador da Harrods na era Al Fayed, muito provavelmente estava a ser filmado”. Segundo o mesmo depoimento, a instalação das câmaras foi orquestrada por John MacNamara, ex-detetive e chefe da segurança interna, sob ordens diretas de Al Fayed.
“Havia vigilância em permanência. As imagens eram acompanhadas em tempo real por seguranças que não escondiam o entusiasmo sempre que alguma mulher chamava a atenção do patrão”, relata. “As perguntas de MacNamara incidiam muitas vezes sobre clientes do sexo feminino”.
Outro testemunho, de um engenheiro responsável pela manutenção do sistema, revela que todo o material era arquivado com o máximo cuidado e que nenhuma zona estava fora do alcance do olhar vigilante de Al Fayed — nem mesmo os membros da administração, motoristas ou guarda-costas.
Mohamed Al Fayed morreu em 2023, aos 94 anos, sem nunca ter sido julgado por estes crimes. No último ano, mais de 500 pessoas — entre vítimas e testemunhas — vieram a público denunciar comportamentos abusivos e práticas sistemáticas de invasão de privacidade.
A loja Harrods, entretanto vendida em 2010, já reagiu, afirmando que “nada nos registos históricos indica que tenham existido câmaras em locais onde a privacidade pessoal pudesse estar comprometida”.
A advogada Emma Jones, especialista em direitos humanos e representante de várias vítimas, defende a abertura de uma investigação pública: “Se se confirmar que houve gravações em zonas como casas de banho e provadores, estamos perante uma violação gravíssima dos direitos fundamentais”.