Ator, que faz de inspetor chefe numa série sobre a ação das FP-25, compara a atualidade com os anos 80 e alerta para riscos na democracia.
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Ivo Canelas tem um novo projeto. O ator é o "inspetor chefe" da série (e filme) da RTP1 "Projeto global", que se centra nos anos 80, em Portugal, e na ação das FP-25, o braço armado do plano político dos portugueses insatisfeitos com o período pós-25 de Abril.
Para o ator, "é muito importante dar a conhecer" o que se passou na altura, porque, diz o artista ao JN,"o momento político, hoje, está cheio de radicalismos, não armados, não violentos, mas profundamente manipuladores e com laivos de extremismo",
Ivo Canelas, que falava à margem das gravações no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, antes das legislativas, considera que "estes laivos apresentam soluções radicais que simplificam tudo, como se seguir sempre em frente, atropelando uma série de minorias, resolva uma série de problemas para as ditas maiorias. A democracia é algo profundamente frágil e precisa de ser mantida por todos".
"O problema do país é "o outro que está a entrar" e "se fecharmos o país não vamos ter problemas nenhuns". Tudo isso é mentira e este material questiona, desde os anos 80, o momento que, curiosamente, estamos a viver hoje de falsas soluções e de radicalismos que, na minha opinião, põem em risco a democracia. Até há cinco anos, Portugal parecia que estava a fugir disso, e de repente estamos iguais a uma grande parte do Mundo, onde há um retrocesso ideológico e civilizacional", nota.
O paradoxo da personagem
Quanto ao "inspetor chefe", vive num "paradoxo". "É uma personagem que tem uma componente política e que tenta manter o equilíbrio entre as suas crenças individuais e aquilo que a sua responsabilidade lhe diz. Esse equilíbrio não é simples", relata.
"Ele vive o paradoxo em querer acreditar que vive em democracia e o medo de não estar certo que a democracia possa seguir sem atos violentos. Tem a experiência da guerra, uma postura de não violência e há um retrocesso em que a morte vem para a cidade em vez de estar longe dela. É um fio de equilíbrio nem sempre claro", remata Ivo Canelas. v