
Joaquim de Almeida aproveita cada momento em família em Portugal, depois de 48 anos a viver nos Estados Unidos
Foto: Joaquim de Almeida/Instagram
Depois de 48 anos nos Estados Unidos, ator conta como a distância afetou a relação com Ana, de 23 anos. Hoje, vendida a casa em Los Angeles a quem perdeu tudo nos incêndios, Joaquim de Almeida aproveita cada momento em família em Portugal.
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Após quase cinco décadas nos Estados Unidos, Joaquim de Almeida decidiu regressar a Portugal. O objetivo era claro: reencontrar a família e recuperar o tempo perdido com os filhos. Em entrevista ao "Alta Definição", com Daniel Oliveira, o ator falou de forma íntima sobre a distância que marcou a relação com Ana, de 23 anos, e sobre o esforço que faz agora para estar mais presente na vida dos filhos.
A ausência afetou sobretudo a filha mais nova. "Separei-me da mãe [Carmo Risques] quando estava a fazer "24 Horas" em Los Angeles. Ela não se adaptou, vieram para trás e, portanto, acabámos por nos separar. Aí com a minha filha foi mais difícil", recordou Joaquim. Apesar das visitas frequentes do pai a Portugal, Ana nunca se envolveu nos filmes deste..
"Eu vinha muito a Portugal para estar com ela, passava tempo comigo, mas nunca veio para os filmes, estava sempre muito longe. A Ana ainda está naquela idade, tem 23 anos. Tinha desistido da universidade, voltou para a universidade com muita felicidade minha porque entretanto queria fazer isto, queria fazer aquilo. Eu, aos 16 anos, decidi que queria ser ator e pronto. Percebo perfeitamente que ela não tenha decidido exatamente, agora parece que sim, voltou, está a fazer design. Acho que ela tem muito jeito para aquilo", contou.
Joaquim admite que agora sente uma relação mais próxima com Ana. "Agora estamos a ficar com uma relação melhor porque fazia-me sempre muita confusão que ela desistisse das coisas", afirmou. Enquanto Lourenço, de 32 anos, se orgulha da carreira do pai, Ana nunca se interessou muito pelos filmes de Joaquim. "Ela se calhar ficou um bocadinho magoada por eu não estar muito com ela. Lembro-me quando era pequena: as pessoas vinham pedir-me uma fotografia e ela pegava na minha mão e dizia "este é o meu pai". Tinha essas reações e acho que tem a ver com isso."
Hoje, Joaquim espera que a filha se interesse pelos filmes no futuro. "Não me importo tanto que ela se tenha desassociado da minha carreira porque percebo as razões. Agora quero é que seja feliz. No fim, o que queremos é que eles sejam felizes", confessou, sublinhando: "É talvez a primeira vez que estou mais tempo com a minha filha, gosta de ir lá a casa, jantamos, falamos mais."
Adeus Trump
O regresso a Portugal aconteceu no início deste ano, depois de anos a ponderar a mudança. Houve um momento decisivo que levou o ator a tomar a decisão. "Eu tive sempre essa noção de que queria voltar. Andava a decidir há dois anos, "venho, não venho", e disse: "se o Donald Trump ganhar venho para Portugal". E foi isso que aconteceu. Não conseguia estar lá mais quatro anos", explicou.
A venda da casa em Los Angeles coincidiu com os incêndios florestais que destruíram milhares de habitações. "Fui para lá este ano para vender a casa. Eu tenho outro apartamento em Nova Iorque, está lá o meu filho, e esse é para ficar. A outra casa recebeu logo uma proposta: "Pus à venda, fui para o Brasil, isto era uma sexta-feira e domingo telefona-me a senhora que estava a vender a casa: "tem uma oferta" e eu fiquei "agora tenho mesmo de vender", mas ajudou-me ao mesmo tempo. As pessoas que me compraram a casa tinham perdido tudo nos incêndios, portanto quiseram tudo. Ficaram com tudo, até com os lençóis. Isso ajudou-me de certa maneira." A única coisa que levei foram uns quadros", contou.
Perda dos pais
Num registo ainda mais íntimo, Joaquim de Almeida falou também da perda dos pais. Sobre a mãe, que morreu em 2007, vítima de Alzheimer, recordou o choque e a dor do momento.
"Fui para os Estados Unidos porque tinha de ir filmar e disseram-me "vem que a mãe não deve durar muito" e depois eu vim, estive com ela, fui para os Estados Unidos e o meu irmão telefona-me no dia antes de eu começar a filmar e eu sabia que ele me ia dizer que a minha mãe tinha morrido, mas é aquela coisa: nós todos estávamos à espera porque a minha mãe já estava numa condição... o Alzheimer... Queríamos todos que a minha mãe morresse porque aquilo não era maneira de viver, mas mesmo sabendo isso caíram-me as lágrimas, desfiz-me em lágrimas."
Sobre o pai, que faleceu em 2020 aos 98 anos, contou: "Estávamos todos preparados para celebrar os 100 anos do meu pai, mas não quis esperar pela empregada que estava a fazer o jantar, levantou-se, caiu e partiu o colo do fémur. Foi operado, durou três dias, já não conseguiu. Já não o via há uns três meses. Depois ele foi para o hospital e acabou por morrer no hospital. Só um de nós é que podia lá ir, foi uma das minhas irmãs. Foi triste, acabei por não o ver nos últimos três meses de vida, mas teve uma vida boa. Viveu até aos 98 anos."
Hoje, o ator procura concentrar-se na família, na felicidade dos filhos e na vida em Portugal, depois de anos de sucesso em Hollywood, aproveitando cada momento que a distância lhe roubou.

