Miguel Vieira regressa ao preto e Hugo Costa apresenta coleção marcada pela introspeção
No quarto dia do Portugal Fashion, Miguel Vieira quase viu o seu desfile cancelado devido ao atraso na chegada da coleção de Milão, mas brilhou com “Uma Noite no Jardim”. Hugo Costa regressou com uma coleção que traduz uma fase de reflexão e mudança pessoal.
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No Portugal Fashion deste ano, o alinhamento juntou dois designers naturais de São João da Madeira a desfilar no mesmo dia. Esta sexta-feira, Miguel Vieira e Hugo Costa mostraram as suas coleções no emblemático Museu do Carro Eléctrico.
Miguel Vieira viveu momentos de grande tensão antes do seu desfile primavera/verão 2026, já apresentado em Milão. O atraso no transporte das peças fez com que a coleção só chegasse no próprio dia, por volta da hora do almoço.
“Foi das semanas mais difíceis da minha vida”, revelou o criador, explicando que a culpa recai sobre as prioridades da fast fashion na distribuição mundial, onde essa mercadoria assume prioridade, deixando os designers independentes à espera. Mesmo assim, optou por avançar e conseguiu apresentar a coleção que já tinha sido vista internacionalmente.
Como já tinha mostrado em Itália, depois de várias temporadas dominadas por paletas vibrantes, Miguel Vieira decidiu revisitar o preto, o seu ADN, como sublinhou.
Reflexão sobre valores
Antes, Hugo Costa apresentou “Luto”, que marca uma fase de transformação pessoal. O designer explicou que o título não remete para uma perda concreta, mas sim para uma reflexão profunda sobre valores e saúde mental, aspetos que afetaram o seu processo criativo.
A sua coleção soma silhuetas renovadas, com casacos oversized e calças flare, mas também uma colaboração com um jovem estagiário que trouxe elementos de grafite à criação, enriquecendo o trabalho manual com novas cores, como um rosa obtido por tingimento artesanal.
As cores sofreram alterações durante o processo, numa fase em que os filhos mais velhos do designer, Luís e Alice, estão a entrar na adolescência, trazendo-lhe novas influências e sensações.
Durante a pausa imposta pela pandemia, a par de outro motivos, Hugo Costa aproveitou para repensar o seu percurso. Para além de continuar a criar, realizou vendas de amostras e sessões fotográficas inovadoras, numa estratégia para manter a relevância e reinventar o seu estilo.
Este encontro no Portugal Fashion evidenciou duas trajetórias marcadas pela resiliência e autenticidade, onde a moda portuguesa continua a afirmar-se com identidade e coragem, mesmo perante os obstáculos do setor.