Apameh Schönauer, arquiteta, ativista e migrante iraniana, venceu concurso, mas está a ser criticada nas redes sociais, onde até é comparada com a “bruxa da Branca de Neve”. Organização diz que procura “mulheres que assumam responsabilidades e atuem como modelos, moldando assim uma sociedade cosmopolita e moderna".
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Vencedora entre 15 mil candidatas ao título, a Miss Alemanha 2024 tem 39 anos, é mãe de dois filhos, casada com um alemão, arquiteta e nasceu no Irão. Apamed Schönauer destacou-se pela defesa dos direitos das mulheres e ajuda aos imigrantes na adaptação à vida no país que a acolheu quando tinha seis anos.
No discurso de eleição, ocorrida no sábado, Apamed realçou que os primeiros anos na Alemanha não foram fáceis porque teve dificuldades em se integrar na escola e perdeu “a noção de quem era enquanto pessoas”.
A nova miss pertence a uma organização de apoio a mulheres oprimidas, a “Shirzan” (“leoa” em português), que incentiva à partilha de histórias e experiências, “ a inspirarem-se e a apoirem-se mutuamente para que possam realizar todo o seu potencial”.
Ao vencer, Apamed Schönauer tornou-se no rosto de uma inclusão cada vez maior no concurso de Miss Alemanha, que se iniciou em 2019 e que põe de lado a beleza física potenciada por biquínis em prol da personalidade e percurso de cada candidata.
A verdade é que, entre as finalistas deste ano, o direito à diferença falou mais alto: para além da vencedora ter um corpo e cabelo fora do comum, houve uma concorrente que vive com um coração doado há dois anos e meio e outra que tem uma doença rara que a obriga a andar de cadeira de rodas.
O próprio concurso avançou mais e aceitou candidatas até aos 42 anos, num processo com 15 mil interessadas o que levou a que a seleção durasse meses.
Após a vitória, porém, Apamed Schönauer viu-se envolvida num mar de comentários negativos nas redes sociais, com contestação pelo facto de “não ser suficientemente alemã” e de não se enquadrar nos padrões de beleza estereotipados.
Há ainda acusações de “wokismo”, com publicações a compararem a eleita com mulheres louras, como é o caso da Miss Universo Alemanda 2023, Helena Bleicher, e considerando Apamed como uma caricatura da bruxa da Branca de Neve.
A contestação à Miss Alemanha 2024 é idêntica às que aconteceram após concursos que procuraram, também, a diferença. É o caso da Miss França, eleita em dezembro, que teve mensagens de ódio devido ao seu cabelo curto e à magreza, da Miss Universo portuguesa, por ser transsexual, e da Miss Japão, de ascendência ucraniana, que foi criticada por não ter feições asiáticas.
A organização do concurso na Alemanha já reagiu, anunciando que aposta na inclusão, que troca a coroa da vencedora por um “prémio de liderança feminina” no valor de 25 mil euros e que procura “mulheres que assumam responsabilidades e atuem como modelos, moldando assim uma sociedade cosmopolita e moderna."